(1759-1833), Monge Russo
(Também conhecido como
Prokhor Moshnin)
Comemorado no dia 02 de Janeiro
Nasceu
em 1759 em Kursk, na Rússia como Prokhor Moshnin. Filho de um construtor ele
teve uma educação de classe média. Estudioso quando rapaz ele foi capaz de se
candidatar a monge em Sarov com o nome de Seraphim, e passava os dias a estudar
as Escrituras e outros escritos antigos da Igreja. Ficou muito doente e acamado
de 1780 a 1783, mas continuou seus estudos mesmo na cama e recebeu varias
aparições da Virgem Maria em 1793.Ele celebrava a missa diariamente o que era
não comum no seu tempo.
Em 1794 ele se tornou
por 16 anos, um eremita na floresta perto do monastério de Sarov. Em 1804 ele
apanhou muito, com o seu machado, de ladrões que o deixaram para morrer. Ele se
arrastou por horas até mosteiro, e ficou 5 meses se recuperando e passou o
resto de sua vida se apoiando em uma bengala para caminhar. Ele viveu no topo
de uma pedra e mais tarde numa cela construída por ele com paredes sem janelas.
Oferecido para ser o Abade da Abadia de Sarov, em 1807, ele não aceitou e
passou 3 anos sem falar uma palavra com auto penitencia.
Em 1810 sua saúde
deteriorou a ponto de não conseguir viver na floresta, e ele retornou a Abadia
de Sarov e lá viveu como ermita em sua cela. Em 1832 ele recebeu uma visão da
Vigem Maria que dizia a ele para retornar ao seu mundo e oferecer aos outros o
benefício de sua sabedoria. Ele atraiu seguidores e estudantes e passou a ser
chamado de "Starets" que em russo significa " mestre (pai)
espiritual".
Ensinou monges e
freiras. Vários dos seus ensinamentos foram publicados no Oeste e no Convento
de Diveyev, Seraphim teve uma visão que foi presenciada pelas freiras do
Convento.
Entre um sem número de
curas que ele efetuava apenas com sua benção ele curou Nicholau Motovilov. Esta
cura foi notável porque fez com que o beneficiário escrevesse suas conversas
que ele teve com São Serafim, uma delas na presença do Divino Espírito Santo.
Este trabalho foi publicado em inglês em varias edições.
Quaisquer que tenham
sido os elementos de lenda que rodeavam São Serafim, não há dúvida que era um
homem de grande dons espirituais e proféticos que se concentrava em ser um
monge ideal e com certeza se transfigurou na cura de Motovilov, e mais tarde em
uma de suas conversas quando: –" uma radiação espiritual que se
manifestava como uma luz cegante, o rodeava -um fenômeno presenciado por homens
de mulheres santas tanto no Ocidente como no Leste.
Nos seus ensinamentos,
Serafim enfatizava ser o Espírito Santo a fonte de luz que transfigurava a alma
dos místicos. Ele também ensinava a importância do servir e da pobreza.
Em janeiro de 1833 ele
foi encontrado morto no chão de sua cela com suas roupas queimadas por uma vela
que havia caído de suas mãos e com a face voltada para o ícone da Virgem na
parede de sua cela.
Foi canonizado em 1903
pela Igreja Ortodoxa Russa.
Sua festa é celebrada no
dia 2 de janeiro
Diálogo de São
Serafim com Motovilov
Explicação
inicial
Muitos anos atrás, em
1832, em uma floresta da Rússia central, nas proximidades do mosteiro de Sarov,
travou-se um notável diálogo entre um sacerdote e um leigo, preservado até os
dias de hoje. O sacerdote, que era também monge, chamava-se Serafim; hoje padre
Serafim está no céu, e é um dos santos mais conhecidos da Igreja Russa.
Muito antes de ser
sacerdote, Serafim se preocupou, como nos ensina o Evangelho, em buscar em
primeiro lugar ao Reino de Deus; e foi para poder dedicar-se mais completamente
a Deus que ingressou aos dezenove anos no mosteiro de Sarov, onde se tornou
monge, depois diácono e sacerdote, entregando-se profundamente à vida de
oração.
Padre Serafim morreu aos
74 anos, em 1883, mas dois anos antes de seu falecimento encontrou um leigo, na
época um homem casado, chamado Nicolas Motovilov, o qual em sua juventude
também havia sido tocado pela graça divina. Deus lhe havia concedido perceber,
durante algum tempo, que parecia haver algo de muito profundo atrás da aparente
simplicidade das palavras do Evangelho. Nicolas Motovilov começou então a
perguntar às autoridades da Igreja qual era a essência e a finalidade do ideal
de vida ensinado por Jesus, mas não recebeu por parte destas pessoas nenhuma
resposta mais precisa. Alguns chegaram a aconselhar ao jovem que parasse de se
preocupar com estas questões e se limitasse a freqüentar a Igreja como todas as
demais pessoas. Porém mais tarde as preocupações da vida engolfaram Motovilov e
ele acabou se esquecendo da busca de Deus. Viveu como se vive na sociedade.
Pecou e sofreu.
Os anos foram se
passando. Motovilov foi então atingido por uma doença na época incurável.
Lembrou-se por causa disso de procurar conforto e auxílio junto a um certo
sacerdote de que tinha ouvido falar, o qual vivia num local muito distante, nas
proximidades de um mosteiro perdido em meio à floresta russa. Por causa de sua
doença Motovilov já não podia andar e nem mesmo ficar de pé. Teve que ser
carregado, em sua penosa viagem, por cinco empregados, mas ficou inteiramente
curado depois de uma conversa com o monge Serafim.
No ano seguinte, um ano
antes do falecimento do Padre Serafim, ambos mantiveram um diálogo de cujo
registro transcrevemos algumas partes. Este diálogo nos fala do Espírito Santo
que foi prometido por Cristo aos que cressem em seu nome, e com a sua leitura
nos vamos ocupar por algum tempo.
Após a leitura deste
diálogo, examinaremos uma pequena passagem da Summa Theologiae de São Tomás
de Aquino, muito menor do que o texto do diálogo entre Serafim e Motovilov, em
que São Tomás nos fala do mesmo assunto.
Condensado do
Diálogo
Era uma quinta feira. O
céu estava cinza. A terra estava coberta de neve e espessos flocos continuavam
a turbilhonar, quando o padre Serafim começou a nossa conversa na clareira
perto de sua «Pequena Ermida», em frente ao rio Sarovka que deslizava ao pé da
colina. Fez-me sentar no tronco de uma árvore que acabava de derrubar e ele se
acocorou em minha frente.
— «O Senhor me revelou»,
disse o grande staretz, «que desde a vossa infância desejáveis saber qual a
finalidade da vida cristã e que tínheis muitas vezes interrogado a este
respeito mesmo a altas personagens na hierarquia da Igreja».
Devo dizer que desde a
idade de doze anos essa idéia me perseguia e que, efetivamente, havia proposto
a questão a várias personalidades eclesiásticas, sem nunca receber resposta
satisfatória. O staretz ignorava-o.
— «Mas ninguém»,
continuou o padre Serafim, «vos disse nada de preciso; vos aconselhavam a ir à
igreja, a rezar, a viver segundo os mandamentos de Deus, a fazer o bem, e tal,
diziam, era o objetivo da vida cristã. Alguns até desaprovavam a vossa
curiosidade, julgando-a descabida e ímpia. Mas estavam errados. Quanto a mim,
miserável Serafim, vos explicarei agora em que consiste realmente esse
objetivo».
A verdadeira
meta da vida cristã
— «A oração, o jejum, as
vigílias e outras atividades cristãs, tão boas quanto possam parecer em si, não
constituem a finalidade da vida cristã, ainda que ajudem a chegar a ela. O
verdadeiro objetivo da vida cristã consiste na aquisição do Espírito Santo de
Deus. Quanto à oração, ao jejum, às vigílias, à esmola, e qualquer outra boa
ação feita em nome de Cristo, são apenas meios para a aquisição do Espírito
Santo.
A aquisição do
Espírito Santo
— «É pois na aquisição
desse Espírito de Deus que consiste a verdadeira finalidade da vida cristã,
enquanto a oração, as vigílias, o jejum, a esmola e as outras ações virtuosas,
feitas em nome de Cristo, são apenas meios para adquiri-lo».
– «Como a aquisição?»,
perguntei ao padre Serafim. «Não compreendo muito bem».
— «A aquisição é a mesma
coisa que a obtenção. Sabeis o que é adquirir dinheiro? Em relação ao Espírito
Santo é semelhante. Para as pessoas comuns, o objetivo da vida consiste na
aquisição do dinheiro, o ganho. Os nobres desejam, além disso, obter honras, sinais
de distinção e outras recompensas concedidas por serviços prestados ao Estado.
A aquisição do Espírito Santo é também um capital, mas um capital eterno,
dispensador de graças; muito parecido aos capitais temporais e que se obtém
pelos mesmos processos. Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus homem, compara a nossa
vida a um mercado e a nossa atividade na terra a um comércio. Recomenda-nos a
todos nós: `Negociai até que eu volte, remindo o tempo, porque os tempos são
maus'; (Lc 19, 12-13; Ef 5, 15-16) o que quer dizer: 'Apressai-vos em obter
bens celestes, negociando com mercadorias terrenas´. Essas mercadorias
terrestres não são senão as ações virtuosas feitas em nome de Cristo e que nos
trazem a graça do Espírito Santo.
Ver a Deus
– «Padre», disse-lhe eu,
«falais sempre da aquisição da graça do Espírito Santo como a finalidade da
vida cristã. Mas, como posso reconhecê-la? As boas ações são visíveis. Mas o
Espírito Santo pode ser visto? Como posso saber se Ele está ou não em mim?»
— «Na época em que
vivemos», respondeu o staretz ,«chegou-se a uma tal tibieza na fé, a uma tal
insensibilidade para com a comunicação com Deus, que as pessoas se afastaram
totalmente da verdadeira vida cristã. Há passagens da Escritura que nos parecem
estranhas hoje, como, por exemplo, quando o Espírito Santo pela boca de Moisés
diz: 'Adão via Deus passeando no Paraíso' (Gn 3) ou quando lemos no apóstolo
Paulo que foi impedido pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia, mas
que o Espírito o acompanhou quando ele se dirigia para a Macedônia (At 16,
6-9). Em muitas outras passagens da Sagrada Escritura ele é, por várias vezes,
assunto da aparição de Deus aos homens. Então alguns dizem: 'Estas passagens
são incompreensíveis. Pode- se admitir que homens possam ver a Deus de maneira tão
concreta?' Esta incompreensão vem do fato de que sob o pretexto da instrução,
da ciência, mergulhamos numa tal obscuridade de ignorância, que tudo achamos
incompreensível, tudo de quanto os antigos tinham uma noção bastante clara para
poderem falar entre eles das manifestações de Deus aos homens como de coisas
conhecidas e, de forma alguma, estranhas. Assim Jó, quando os seus amigos o
reprovavam por não blasfemar contra Deus, respondia: `Enquanto em mim houver um
sopro de vida e o alento de Deus nas narinas, meus lábios não dirão
falsidades'. (Jó 27, 3)
Em outras palavras, como
posso blasfemar contra Deus, quando o Espírito Santo está em mim? Se
blasfemasse contra Deus, o Espírito Santo me deixaria, mas sinto sua respiração
em minhas narinas. Abraão e Jacó conversaram com Deus. Jacó lutou mesmo com
Ele. Moisés viu Deus e todo o povo com ele, quando recebeu as tábuas da Lei, no
Sinai. Uma coluna de nuvens de fogo, a graça visível do Espírito Santo, servia
de guia ao povo hebreu no deserto. Os homens viam a Deus e seu Espírito não em
sonho ou êxtase, fruto de uma imaginação doentia, mas na realidade.
Desatentos, como nos
tornamos, compreendemos as palavras da Escritura contrariamente ao que se
deveria. E tudo isso porque, em lugar de buscar a graça, nós a impedimos, por
orgulho intelectual, de vir habitar em nossas almas e de nos esclarecer como
são esclarecidos aqueles que de todo coração buscam a verdade».
A criação
— «Muitos, por exemplo,
interpretam as palavras da Bíblia: `Deus modelou o homem com a argila do solo,
insuflou em suas narinas um hálito de vida', (Gn 2, 7) como querendo dizer que
até então não havia em Adão nem alma, nem espírito humano, mas somente uma
carne criada do barro do solo. Esta interpretação não é correta, pois o Senhor
Deus criou Adão do barro do solo no estado do qual fala o apóstolo Paulo quando
afirma: 'Que vosso espírito, vossa alma e vosso corpo sejam guardados de modo
irrepreensível para o dia da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo'. (1 Tes 5, 23)
Todas estas três partes do nosso ser foram criadas do barro do solo.
Adão não
foi criado morto, mas criatura animal atuante, semelhante às outras criaturas
que vivem na terra e são animadas por Deus. Mas eis o importante. Se Deus não
tivesse insuflado na face de Adão este alento de vida, isto é, a graça do
Espírito Santo que procede do Pai e repousa no Filho e, por causa deste não o
tivesse enviado ao mundo, por mais perfeito e superior às outras criaturas que
Adão fosse, teria permanecido privado do Espírito deificante e seria semelhante
a todas as outras criaturas que possuíssem carne, alma e espírito segundo a sua
espécie, mas privados, no interior, do Espírito que estabelece parentesco com
Deus. A partir do momento em que Deus lhe deu o sopro de vida, Adão tornou-se,
segundo Moisés: 'uma alma vivente', o que quer dizer, em tudo semelhante a
Deus, eternamente imortal. Adão havia sido criado invulnerável. Nenhum elemento
tinha poder sobre ele. A água não podia afogá-lo, o fogo não podia queimá-lo, a
terra não o podia engolir e o ar não lhe podia ser nocivo. Tudo lhe era
submisso, como ao proferido de Deus, como ao proprietário e rei das criaturas.
Ele era a própria perfeição, a coroa das obras de Deus e admirado como tal. O
alento de vida que Adão recebeu do Criador, o encheu de sabedoria a tal ponto
que jamais houve sobre a terra, e provavelmente jamais haverá, um homem tão
repleto de conhecimento e de saber quanto ele. Quando Deus lhe ordenou que
desse nomes a todas as criaturas, ele as denominou de acordo com as qualidades,
as forças, e as propriedades de cada uma, conferidas por Deus.
Este dom da graça divina
supranatural, que veio do alento de vida que havia recebido, permitia a Adão
ver a Deus passeando no paraíso e compreender as suas palavras bem como a
conversa dos santos anjos e a linguagem de todas as criaturas, dos pássaros,
dos répteis que vivem sobre a terra, de tudo o que nos é dissimulado, a nós,
pecadores, desde a queda, mas que antes era perfeitamente claro para Adão.
A graça do
Espírito Santo é luz
—«Ainda é preciso que vos
diga, a fim de que compreendais o que é preciso entender por graça divina, como
ela se manifesta nos homens que ilumina: a graça do Espírito Santo é Luz. Toda
a Sagrada Escritura fala disso. Davi, o antepassado do Deus homem, disse: 'Tua
palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho'. (Sl 118, 105)
Em outros termos, a
graça do Espírito Santo, que a lei revela na forma dos mandamentos divinos, é
minha luminária e minha luz e, se não fosse essa graça do Espírito Santo, 'que
com tanto trabalho me esforço por adquirir, me interrogando sete vezes ao dia
de sua verdade', (Sl 118, 164) como, entre as numerosas preocupações inerentes
à minha condição real, poderia encontrar em mim uma só chispa de luz para me
iluminar acerca do caminho da vida enegrecida pelo ódio de meus inimigos?
De fato, o Senhor muitas
vezes mostrou, na presença de numerosas testemunhas, a ação da graça do
Espírito Santo sobre os homens que ele havia iluminado e ensinado através de
grandiosas manifestações. Lembrai-vos de Moisés, depois de sua conversa com
Deus sobre o Monte Sinai (Ex. 34, 30-35). Os homens não podiam olhá-lo de tal
modo seu rosto brilhava com uma luz extraordinária. Era mesmo obrigado a se
mostrar ao povo com a face recoberta com um véu. Lembrai-vos da transfiguração
do Senhor no Tabor. `E ali foi transfigurado diante deles. O seu rosto
resplandeceu como o Sol, e suas vestes se tornaram brancas como a luz [...] Os
discípulos ouvindo a voz, muito assustados, caíram com o rosto no chão'. Quando
Moisés e Elias apareceram revestidos da mesma luz `uma nuvem os encobriu para
que não ficassem cegos'. (Mt. 17, 1-8; Mc 9, 2-8; Lc 9, 28-37)
É assim que a graça do
Espírito Santo de Deus aparece numa luz inefável àqueles a quem Deus manifesta
a sua ação.
Presença do
Espírito Santo
–«Como poderei então»,
perguntei ao padre Serafim, «reconhecer em mim a presença do Espírito Santo?»
— «É muito simples»,
respondeu ele. Deus disse: 'O saber é fácil para o inteligente'. (Prov 14, 6)
Nossa desgraça é que nós não procuramos essa sabedoria divina que, não sendo
deste mundo, não é presunçosa. Cheia de amor por Deus e pelo próximo, ela molda
o homem para sua salvação. Foi falando dessa sabedoria que o Senhor disse:
`Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade'.
(1 Tim. 2, 4) A seus apóstolos, que não tinham esta sabedoria, ele disse: `Ó
insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram!'
(Lc 24, 25-27) E o Evangelho diz que ele `lhes abriu a inteligência a fim de
que pudessem compreender as Escrituras'.
Tendo adquirido essa
sabedoria, os apóstolos sabiam sempre se o Espírito de Deus estava ou não com
eles e, cheios desse Espírito, afirmavam que sua obra era santa e agradável a
Deus. Por isso em suas epístolas podiam escrever: `Pareceu bem ao Espírito
Santo e a nós...', (At 15, 28) e somente persuadidos como estavam de sua
presença sensível, enviavam suas mensagens. Então, amigo de Deus, vede como é
simples.
– Respondi: «Apesar de
tudo, não compreendo como posso estar absolutamente certo de me encontrar no
Espírito Santo. Como posso eu mesmo descrever em mim a sua manifestação?»
O padre Serafim
respondeu:
— «Já vos disse que é
muito simples e vos expliquei com detalhes como os homens se encontravam no
Espírito Santo e como se deve compreender a sua manifestação em nós... Que vos
falta ainda?
– «Eu preciso»,
respondi, «compreendê-lo verdadeiramente bem...»
A luz incriada
Então o padre Serafim me
tomou pelos ombros e, apertando-os fortemente, disse:
— «Estamos ambos, vós e
eu, na plenitude do Espírito Santo. Por que não me olhais?
– «não posso, padre,
olhar-vos. Brotam raios de vossos olhos. O vosso rosto tornou-se mais luminoso
do que o Sol. Os olhos me doem...»
O padre Serafim disse:
— « Não tenhais medo,
amigo de Deus. Também vos tornastes tão luminoso quanto eu. Vós também estais
agora na plenitude do Espírito Santo, de outro modo não teríeis podido me ver.
Inclinando a sua cabeça
para mim, disse-me ao ouvido:
— «Agradecei ao Senhor
por vos ter concedido esta graça indizível. Vistes, nem mesmo fiz o sinal da
cruz, no meu coração, em pensamento somente, rezei: `Senhor, tornai-me digno de
ver claramente, com os olhos da carne, a descida do Espírito Santo como a teus
servidores eleitos quando te dignaste aparecer-lhes na magnificência de tua
glória!' E imediatamente Deus atendeu a humilde oração do miserável Serafim.
Como não agradecer-lhe por esse dom extraordinário que a nós dois ele concede?
Não é também sempre aos grandes eremitas que Deus manifesta assim a sua graça.
Como mãe amorosa, essa graça se dignou consolar o vosso coração desolado, a
pedido da própria Mãe de Deus. Mas, por que não me olhais nos olhos? Ousai
olhar-me sem temor, Deus está conosco.
– Depois destas
palavras, levantei os olhos para o rosto e um medo maior ainda tomou posse de
mim. Imaginai-vos no meio do Sol, na claridade mais forte de seus raios de meio
dia, o rosto de um homem que vos fala. Vedes o movimento de seus lábios, a
expressão cambiante de seus olhos, vós ouvis o som de sua voz, sentis a pressão
de suas mãos, mas, ao mesmo tempo, não percebeis nem as suas mãos, nem o seu
corpo, nem o vosso, nada senão uma esplendorosa luz se propagando ao redor, a
uma distância de muitos metros, iluminando a neve que recobria a campina e caía
sobre o grande staretz e sobre mim. Pode-se representar a situação na qual me
encontrava então?
— «Que sentis agora?»,
perguntou o staretz.
– «Sinto-me
extraordinariamente bem».
— «Como 'bem'? Que
quereis dizer por 'bem'?»
– «Minha alma está cheia
de um silêncio e de uma paz inexplicável».
— «Aí está, amigo de
Deus, esta paz da qual o Senhor falava quando ele dizia a seus discípulos:
"Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a
dá. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas porque não sois do
mundo e minha escolha vos separou do mundo, o mundo por isso vos odeia. Eu vos
disse tais coisas para terdes paz em mim. Tende coragem, eu venci o
mundo". (Jo 14,27; 15,19; 16,33) É a esses homens eleitos por Deus, mas
odiados pelo mundo, que Deus dá a paz que sentis agora, 'a paz de Deus', diz o
apóstolo, 'que excede toda a compreensão'. (Fil 4, 7) O apóstolo denomina-a
assim porque nenhuma palavra pode exprimir o bem estar espiritual que ela faz
nascer nos corações dos homens em que o Senhor a implanta. Ele mesmo a chama
sua paz (Jo. 14, 27). Fruto da generosidade de Cristo e não deste mundo,
nenhuma felicidade terrena a pode dar. Enviada do alto pelo próprio Deus, ela é
a paz de Deus... Que sentis agora?»
– «Uma delícia extraordinária».
— «É a delícia de que
fala a Escritura: 'Eles ficam saciados com a gordura de tua casa, tu os
embriagas com um rio de delícias'. (Sl 35, 9) Ela transborda do nosso coração,
derrama-se em nossas veias, traz-nos uma sensação de delícia inexprimível...
Que sentis ainda?
– «Uma extraordinária
alegria em todo o meu coração».
— «Quando o Espírito
Santo desce sobre o homem com a plenitude de seus dons, a alma humana fica
cheia de uma alegria indescritível. É dessa alegria que o Senhor fala no Evangelho
quando diz: `Quando uma mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua
hora chegou; quando, porém, nasce a criança, ela já não se lembra dos
sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um homem. Também vós, agora,
estais tristes; mas eu vos verei de novo e vosso coração se alegrará e ninguém
vos tirará a vossa alegria'. (Jo 16, 21-22) Por grande e consoladora que ela
seja, a alegria que sentis neste momento nada é, em comparação com aquela da
qual o Senhor disse através de seu apóstolo: `O que os olhos não viram, o que
os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou
para aqueles que o amam'. (1Cor 2, 9) O que nos é concedido presentemente é
apenas uma antecipação dessa alegria suprema. E, se desde agora, nós sentimos
deleite, júbilo e bem estar, que dizer desta outra alegria que nos está
reservada no céu, depois de ter, aqui na terra, chorado? Já haveis chorado
bastante em vossa vida e vede que consolação na alegria o Senhor vos dá aqui na
terra. Cabe a nós, agora, amigo de Deus, trabalhar com todas as nossas forças
para subirmos de glória em glória `até que alcancemos todos nós a unidade da fé
e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado do homem perfeito, a medida
da estatura da plenitude de Cristo'. (Ef 4, 13) `Os que põe sua esperança em
Javé renovam as suas forças, formam asas como as águias, correm e não se
fatigam, caminham e não se cansam'. (Is 40, 31) `Eles caminham de terraço em
terraço e Deus lhes aparece em Sião'. (Sl 83, 8 É então que a nossa alegria
atual, pequena e breve, se manifestará em toda a sua plenitude e ninguém nos
poderá arrebatá-la, repletos como estaremos de indizíveis gozos celestes. Que
sentis, ainda, amigo de Deus?
– «Um calor
extraordinário»
— «como, um calor? Não
estamos na floresta, em plena neve? A neve está sob os nossos pés, estamos
cobertos dela e ela continua caindo... De que calor se trata?»
– «Um calor semelhante
ao de um banho de vapor».
— «E o cheiro é como no
banho?»
– «Oh, não! Nada sobre a
terra se pode comparar a esse perfume. No tempo em que a minha mãe vivia, ainda
gostava de dançar e quando eu ia a um baile, ela me aspergia perfumes que
comprava nas melhores lojas de Kasan e pagava muito caro. O seu odor não é
comparável a estes aromas».
O padre Serafim sorriu.
— «Eu sei, meu amigo,
tanto quanto vós, e é de propósito que vos interrogo. É bem verdade, nenhum
perfume terreno pode ser comparado ao bom odor que respiramos neste momento, o
bom odor do Espírito Santo. O que pode, sobre a terra, ser-lhe comparado? Dissestes,
ainda há pouco, que fazia calor, como no banho. Mas olhai, a neve que nos
cobre, a vós e a mim, não se derrete, assim como a que está aos nossos pés. O
calor não está no ar, mas no nosso interior. É este calor que o Espírito Santo
nos faz pedir na oração: `Que teu Espírito Santo nos aqueça'. Este calor
permitia aos eremitas, homens e mulheres, não temerem o frio do inverno,
envolvidos, como estavam, como que num manto de peles, numa veste tecida pelo
Espírito Santo. É assim que, na realidade, deveria ser, habitando a graça
divina no mais profundo de nós, em nosso coração. O Senhor disse: `O Reino de
Deus está dentro de vós'. (Lc 17, 21) Por Reino de Deus ele entende a graça do
Espírito Santo. Este Reino de Deus está em nós, agora. O Espírito Santo nos ilumina
e nos aquece. Enche o ar de perfumes variados, alegra os nossos sentidos, sacia
o nosso coração com alegria indizível. O nosso estado atual é semelhante àquele
do qual fala o apóstolo: `Porquanto o Reino de Deus não consiste em comida e
bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo'. (Rom 14, 17) A nossa
fé não se baseia em palavras de sabedoria terrena, mas na manifestação do
poderio do Espírito. Trata-se do estado em que estamos atualmente e que o
Senhor tinha em vista quando dizia: `Em verdade vos digo que estão aqui
presentes alguns que não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus
chegando com poder'. (Mc 9, 1) Eis aí, amigo de Deus, a alegria incomparável
que o Senhor se dignou conceder-nos. Eis o que é estar `na plenitude do Espírito
Santo'. É isto o que entende São Macário, o Egípcio, quando escreve: `Eu mesmo
estive na plenitude do Espírito Santo'. Humildes quanto somos, o Senhor nos
encheu da plenitude de seu Espírito. Parece-me que, a partir deste momento, não
tereis de me interrogar mais sobre a maneira como se manifesta, no homem, a
presença da graça do Espírito Santo. Esta manifestação permanecerá para sempre
em vossa memória.
– «Não sei, padre, se
Deus me tornará digno de me lembrar dela sempre com tanta nitidez como agora»
Difusão da
mensagem.
— «E eu», respondeu o
staretz, «Julgo que, pelo contrário, Deus vos ajudará a guardar todas estas
coisas para sempre, em vossa memória. De outro modo ele não teria sido tão
rapidamente tocado pela humilde oração do miserável Serafim e não teria
atendido tão depressa o seu desejo. Além do mais, não é somente a vós que é
dado ver a manifestação desta graça mas, por vosso intermédio, ao mundo
inteiro. Vós mesmo assegurai-vos, sereis útil a outros.
Monge e leigo
— «Quanto a nossos
estados diferentes, de monge e leigo, não vos preocupeis. Deus procura acima de
tudo um coração cheio de fé nele e em seu Filho único, em resposta à qual envia
do alto a graça do Espírito Santo. O Senhor procura um coração repleto de amor
por Ele e pelo próximo; aí está um trono sobre o qual Ele gosta de sentar-se e
onde ele aparece na plenitude de sua glória. `Meu filho, dá-me o teu coração, e
o resto eu te darei por acréscimo'. (Pr 23, 26) O coração do homem é capaz de
conter o Reino dos Céus. `Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua
justiça', diz o Senhor a seus discípulos, `e todas estas coisas vos serão
acrescentadas, pois Deus, vosso Pai, sabe do que precisais'. (Mt 6, 33)
Legitimidade dos
bens terrenos
— «O Senhor não nos
proíbe o gozo dos bens terrenos, e diz ele próprio que, dada a nossa situação
aqui na terra, deles precisamos para dar tranqüilidade às nossas existências e
tornar mais cômodo e fácil o caminho para a nossa pátria celeste. E o apóstolo
Pedro acha que nada há melhor no mundo do que a piedade unida ao contentamento.
A Santa Igreja pede que isso seja dado. Apesar das penas, as desgraças, e as
necessidades serem inseparáveis da nossa vida na terra, o Senhor jamais quis
que os cuidados e as misérias constituíssem toda a trama dela. E, por isso,
pela boca do apóstolo nos manda carregar os fardos uns dos outros, a fim de
obedecer a Cristo que pessoalmente nos deu o preceito de nos amarmos
mutuamente. Reconfortados por esse amor, a caminhada dolorosa pela via estreita
que leva à nossa pátria celeste nos será facilitada. Não desceu o Senhor do céu
não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida pela redenção de muitos?
(M. 20, 28; Mc 10, 45). Atuai do mesmo modo, amigo de Deus, e, consciente da
graça da qual fostes visivelmente objeto, comunicai-a a todo homem desejoso da
sua salvação.
Atividade
missionária
— «'A colheita é
grande', diz o Senhor, `mas poucos os operários'. (Mt 9, 37-38; Lc 10, 2) Tendo
recebido os dons da graça, somos chamados a trabalhar colhendo as espigas da
salvação do nosso próximo, para os recolhermos no celeiro, em grande número, no
Reino de Deus, a fim de que produzam seus frutos, uns trinta, outros sessenta,
e outros cem. Estejamos atentos para não sermos condenados com o servo
preguiçoso que enterrou o dinheiro a ele confiado, mas tratemos de imitar os
servos fiéis que devolveram ao Mestre um, em vez de dois talentos, quatro, e o
outro, em vez de cinco talentos, dez. Quanto à misericórdia divina, não se pode
duvidar dela: vede vós mesmo como as palavras de Deus, ditas por um profeta, se
realizaram por nós. `Sou, por acaso, Deus apenas de perto'. (Jr 23, 23)
Conversa com
Motovilov
«Tendes muito
pouca fé»
«O Senhor está perto dos
que o invocam. Não faz acepção de pessoas. O Pai ama o Filho e entregou tudo
nas suas mãos" (Sl 145,18; Rm 2,11; Jo 3,35). Desde que amemos
verdadeiramente o nosso Pai celeste como filhos, o Senhor escuta de igual modo
um monge e um homem do mundo, um simples cristão. Desde que ambos tenham a
verdadeira fé, amem a Deus do fundo do coração e possuam uma fé "grande
como um grão de mostarda", "ambos deslocarão montanhas". O
próprio Senhor diz: "Tudo é possivel àquele que crê" (Mt 9,23). E o
santo apóstolo Paulo exclama: "Posso tudo em Cristo que me dá forças"
(Fl 4,13). Mais maravilhosas ainda são as palavras do Senhor a propósito dos
que crêem nele: "Aquele que acredita em mim fará também as obras que eu
faço e fará ainda maiores, porque eu vou para o Pai. Tudo o que pedirdes em meu
nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes
alguma coisa em meu nome, eu a farei" (Jo 14,12-14).
E é mesmo assim, ó amigo
de Deus. Tudo o que pedirdes a Deus, obtê-lo-eis, desde que o vosso pedido seja
para glória de Deus ou para o bem do vosso próximo. Porque Deus não separa o
bem do próximo da sua glória: "Tudo o que fizerdes ao mais pequeno de
entre vós, a mim o fareis" (cf. Mt 25,45).
Um pagão entra
na herança de Israel
O espírito de Deus
manifesta-se, embora com uma força menor, nos pagãos que não conhecem o
verdadeiro Deus, mas entre os quais se encontram também simpatizantes. As
virgens profetas, por exemplo, as sibilas, guardavam a virgindade para um deus
desconhecido – mas um Deus de qualquer modo – que supunham ser o Criador do
universo, o Todo-Poderoso que governava o mundo. Os filósofos pagãos, errando
nas trevas da ignorância de deus, mas procurando a verdade, podiam, devido a
esta busca agradável ao Criador, receber o Espírito Santo em certa medida. S.
Paulo escreve: “quando os gentios, que não têm lei, cumprem pela luz natural,
aquilo que a lei ordena, sem terem a lei, são lei para si mesmos” (Rom 2,14). A
verdade é a tal ponto agradável a Deus que ele próprio o proclama pelo seu
espírito: “Da terra germina a fidelidade e a justiça olha do céu” (Sl 84,12).
Assim se conservou o
conhecimento de Deus no povo escolhido, amado por Deus, assim entre os pagãos
ignorando Deus, depois da queda de Adão e até à incarnação de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Sem este conhecimento, sempre claramente conservado no género
humano, como teriam os homens podido saber se tinha vindo aquele que, segundo a
promessa feita a Adão e Eva, devia nascer de uma Virgem destinada a esmagar a
cabeça da serpente? (Gn 3,15).
"Procurai
primeiro o seu Reino e a sua justiça e tudo o mais vos será dado por
acréscimo"
[S. Serafim e Molovilov
encontram-se mergulhados numa grande luz e numa grande suavidade. Serafim
diz-lhe:] Meu amigo, os homens foram criados para que a graça divina habite no
mais profundo de nós, no nosso coração. O Senhor disse: "O Reino dos céus
está dentro de vós" (Lc 17,21). Por Reino dos céus, Ele entende a graça do
Espírito Santo; esse Reino de Deus está em nós dois neste momento. O Espírito
Santo ilumina-nos e aquece-nos; enche o ar com os seus perfumes, alegra os
nossos sentidos e inunda os nossos corações com uma alegria inefável.
Experimentamos o que diz o apóstolo Paulo: "O Reino de Deus não é o comer
e o beber, mas a justiça, a paz e a alegria, pelo Espírito Santo" (Rm
14,17)... Vê, amigo de Deus, que alegria incomparável se dignou conceder-nos o
Senhor. Vê o que é estar "na plenitude do Espírito Santo"... Humildes
como somos, o Senhor encheu-nos com a plenitude do Seu Espírito. Parece-me que,
a partir de agora, já não me interrogarás mais acerca da forma como se
manifesta no homem a presença da graça do Espírito Santo...
Quanto aos nossos
estados diferentes, de monge e de leigo, não te preocupes. Deus procura antes
de tudo um coração cheio de fé n'Ele e no seu Filho único, em resposta à qual
Ele envia do alto a graça do Espírito Santo. O Senhor procura um coração cheio
de amor para com Ele e para com o próximo - esse é o trono em que Ele gosta de
se sentar e onde aparece na plenitude da sua glória. "Filho, dá-me o teu
coração, e o resto dar-te-ei por acréscimo" (Pr 23,26). O coração do homem
é capaz de conter o Reino dos Céus. "Procurai primeiro o Reino dos Céus e
a sua verdade, diz o Senhor aos seus discípulos, e o resto ser-vos-á dado por
acréscimo, porque Deus vosso Pai sabe que disso tendes necessidade".
«Confiou-lhes os
seus bens»
O Senhor não nos censura
por usufruirmos dos bens terrenos e é Ele próprio quem diz que, tendo em conta
a nossa situação neste mundo, precisamos deles para dar tranqüilidade à nossa
existência e tornar mais cómodo e mais fácil o caminho em direcção à pátria
celeste. A Santa Igreja reza para que isso nos seja dado. Apesar de as dores,
as tristezas e as necessidades serem inseparáveis da nossa vida na terra, o
Senhor nunca quis que as preocupações e as misérias constituíssem toda a sua
trama. É por isso que nos recomenda, pela boca do apóstolo Paulo, que levemos
os fardos uns dos outros (Ga 6, 2), a fim de obedecermos a Cristo, que nos deu
pessoalmente o preceito de nos amarmos uns aos outros. Não é verdade que o
Senhor desceu do céu “não para ser servido, mas para servir e dar a vida em
resgate por todos” (Mc 10, 45)? Age da mesma forma, amigo de Deus, e,
consciente da graça de que foste visivelmente objecto, comunica-a a todo o
homem que desejar ser salvo.
“A messe é g rande”, diz
o Senhor, “mas os trabalhadores são poucos” (Mt 9, 37). Tendo recebido os dons
da graça, somos chamados a trabalhar, ceifando as espigas da salvação do nosso
próximo, a fim de os recolhermos em grande número no celeiro do Reino de Deus,
para que dêem fruto, uns a trinta, outros a sessenta, outros a cem por um (Mc
4, 8).
Estejamos atentos, a fim
de não sermos condenados como o servo preguiçoso, que enterrou o talento que o
seu senhor lhe confiou; procuremos antes imitar os servos fiéis, que devolveram
ao seu senhor, um quatro talentos em vez dos dois, outro dez talentos em vez
dos cinco. Nem podemos duvidar da misericórdia divina; vós próprios vedes como
se realizaram em vós as palavras de Deus, ditas por um profeta: “Não sou um Deus
que vê de longe” (Jer 23, 23)
FONTE: http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/hagiografia/s_serafim_de_sarov.html