Fr. Andrew Stephen Damick |
A natureza de listas deste tipo é tal que elas realmente não constituem uma apologia. Esta lista, pelo menos, não tem a intenção de ser universalmente aplicável - são os meus motivos. Podem não ser os de outra pessoa. Também ficará evidente que meu passado como evangélico antes de me tornar ortodoxo é um grande fato aqui. Dito isso, eis a lista.
1. Eu acredito que a Igreja Ortodoxa realmente é a Igreja Una e verdadeira de Cristo.
Seria possível falar muita coisa aqui, mas o motivo pelo qual acredito nisso é que eu examinei tanto as Escrituras quanto a história do Cristianismo, e me convenci de que a única Igreja que se encaixa nas duas é a Ortodoxia. De importância particular para mim foram os escritos de Sto. Inácio de Antioquia, um discípulo do Apóstolo João. A vida de igreja que ele descrevia certamente não era o que eu via no meio evangélico. Já que ele era alguém que aprendera como ser um cristão diretamente dos Apóstolos, eu queria estar na igreja dele.
A Ortodoxia leva a história a sério e não dilui a parte difícil. Também não fica escolhendo o pedaço que interessa dos registros dos primeiros cristãos para desenvolver um "sistema" bem resolvido de teologia que seja fácil de engolir. Ao invés, porque a Ortodoxia é verdadeiramente a comunidade que descende dos Apóstolos, dentro da sua memória teológica encontram-se séculos de dogmas, doutrinas e reflexões. Nem tudo aí é inteiramente consistente, ou fácil de entender, mas ainda assim é um grande rio de verdades com uma direção geral única. Não vemos isso da mesma forma no Catolicismo Romano (que tem diversas viradas na história) e é impossível de encontrar tal coisa no Protestantismo. A maioria dos protestantes nem mesmo se preocupa com isso.
Isso não significa que eu ache que os não-ortodoxos estão condenados, nem acho que todo cristão ortodoxo está infalivelmente destinado à benção eterna. E a verdade da Ortodoxia não é um testemunho meu. Ela é verdade, mas não por minha causa.
2. A Ortodoxia me dá algo para fazer.
Não é que eu estivesse entediado e precisasse de algo para me entreter. Quero dizer que a vida cristã que eu havia aprendido antes de me tornar ortodoxo era essencialmente não-crítica. Eu tinha sido "salvo" e não havia mais nada importante a ser feito. Eu devia tentar ter alguma moral, claro, e ajudar outras pessoas a serem salvas, mas nada disso era realmente necessário para a grande pergunta, que era "você sabe o que aconteceria se você morresse esta noite"? Bem, eu sabia. Eu era "salvo". Eu iria para o céu.
Mas e se a vida espiritual for na verdade ela inteira importante? E se você tivesse que lutar até o final para ser salvo? E se ser cristão exigir que trabalhemos nossa salvação com temor e tremor? A Ortodoxia provê uma vida espiritual plena de corpo e espírito que pressupõe que tudo que você faz como cristão ou te deixa mais semelhante a Deus ou mais diferente dEle, e como se tornar semelhante a Deus é o que a salvação é, isso significa que tudo que você faz é importante. Você não "cai" nessa vida. Você tem que ter moralidade e tem que evangelizar, mas não porque vai ter recompensas maiores no céu, mas porque essas coisas são parte do que significa cooperar com Deus de modo que você possa ser salvo.
3. A Ortodoxia me dá um modo de ver e tocar Deus fisicamente.
O Filho de Deus se tornou o Filho de Maria, e isto significa que Ele tornou-Se visível e tocável. Na Ortodoxia, as implicações da doutrina da Encarnação são que a presença divina – a santidade – concretamente torna-se presente no mundo material. Claro que se pode argumentar que tal presença está em um lugar físico único – o corpo humano de Jesus – ou podemos ser coerentes e ver como a santidade flui em diversos outros locais físicos tanto na Bíblia quanto na subsequente história cristã. Ossos de santos, sombras de apóstolos e mesmo lenços tocados por apóstolos transmitiram o poder de Deus.
Dentro desse contexto, quando Jesus disse “Este é Meu Corpo” e “Este é Meu Sangue”, faz mais sentido levá-lO a sério e não apenas metaforicamente. É por isso que S. Paulo avisou que as pessoas que recebiam a Santa Comunhão indignamente poderiam ficar doentes ou até morrer. Se fosse “só” um símbolo, como ela poderia fazer isso?
A fisicalidade da Ortodoxia – sacramentos, incensos, vestimentas, arquitetura da igreja, ícones, etc – não ficam entre mim e Deus. Eles me colocam em contato com Deus. Uma ponte entre duas margens não as isola, mas ao invés, as conecta. Os muitos elementos físicos da Ortodoxia não são mágica humana, mas a continuação do dom de Deus na Encarnação, da religação entre Deus e o homem.
4. A mudança é realmente difícil.
Às vezes as pessoas brincam dizendo que a Ortodoxia não é uma “religião organizada”, com ênfase no “organizada”. Não tem um papa determinando regras para toda a Igreja; nossos principais hierarcas parecem não se darem bem com frequência; e parece que nunca vamos chegar a ter o tal Grande e Santo Concílio sobre o qual temos falado por quase um século. Mas nenhuma dessas coisas me incomoda. Entre outros motivos, a pura logística faz com que seja quase impossível que alteremos o que fazemos.
E se toda aquela coisa de Eternidade e Verdade forem para valer, por que deveríamos sequer pensar em mudar alguma coisa? Não se vota nisso democraticamente, e não pode ser imposto monarquicamente. Então mudança é algo que não acontece. Isso não é um defeito. É uma qualidade. A Ortodoxia não vai mudar sob os seus pés.
Essa falta de organização também me leva a amar a Ortodoxia por outra razão:
5. A Ortodoxia é uma Igreja Una.
Diferente do mundo protestante e suas denominações, as várias igrejas da Ortodoxia realmente tem que conversar umas com as outras e arrumar as coisas. Um presbiteriano e um luterano podem reconhecer um ao outro como cristãos, mas eles não têm nenhuma voz na vida interna da igreja do outro. O mesmo vale para alguém da Igreja Presbiteriana da América e outra pessoa da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América (ambas são denominações presbiterianas). Eles não têm que resolver nada entre eles. Um prédio da Igreja Presbiteriana da América não infringe de modo algum o território da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, porque eles não são a mesma igreja.
A Ortodoxia pode ter brigas e confrontos (embora a maioria dos paroquianos nunca verá isso, a menos que estejam em uma paróquia disfuncional), mas o fato é que tais imbróglios mostram que reconhecemos que somos uma Igreja uma, que temos um problema e que precisamos consertá-lo. Os protestantes sempre tem a opção de separar-se (e uma vez que isso aconteça, eles não têm mais que se ocuparem uns com os outros), enquanto os Católicos Romanos podem em última instância apelar ao Vaticano, que pode impor soluções que funcionem para o Vaticano, mas não necessariamente para todos os envolvidos.
6. A Ortodoxia é uma fé para toda a vida
Como a Ortodoxia vem com um vasto conjunto de expressões das suas tradições, você nunca vai conseguir aprender tudo. Sempre há algo novo, não apenas para aprendermos, mas para sermos. Embora não atravessemos a linha de “chegada” senão na vida após a morte (e eu diria que mesmo isso não é uma chegada, isto é, não é o fim da estrada da salvação), existem muitas estações no meio do caminho nesta vida que nos deleitam e dão grande alegria. A diferença entre a Ortodoxia e as igrejas evangélicas é que não estou falando simplesmente de crescer em sabedoria, o que é comum em todas as tradições religiosas, mas que a Ortodoxia mapeia muitos estágios do nosso desenvolvimento espiritual ao longo de toda a vida.
Lembro que uma vez estava ouvindo um monge me explicar uma resposta que ele obtivera de um santo ancião no Monte Atos depois de lhe fazer muitas perguntas. O ancião explicara que algumas coisas não fariam sentido para ele antes dele receber algum nível de iluminação (teoria). É verdade. Ninguém pode ler uma afirmação de fé da Ortodoxia, nem mesmo o Credo, e dizer, “Ah, sim, isso aí é tudo que a Ortodoxia ensina, entendi agora”.
E, repito, isso não é um defeito, é uma qualidade. É verdade que gostamos que as coisas sejam simples, prontamente acessíveis a todos, mas qualquer fé que não seja complexa o suficiente para tratar as complexidades da experiência humana não é digna da dignidade humana. A Ortodoxia provê isso de um modo que não encontrei em lugar nenhum.
7. A Ortodoxia é uma fé para o mundo inteiro
Não existe um “perfil demográfico” para a Ortodoxia. Não fazemos pesquisa de mercado para tentar descobrir como atrair os jovens, os idosos, os descolados ou os suburbanos, ou qualquer padrão que seja para nossa paróquia. É até normal que exista certo grau de afinidades entre os membros, mas isso não é fruto de um planejamento. Não teve nenhum comitê dizendo, “como fazemos para atrair a classe média de 30 anos?”
Sim, a Ortodoxia às vezes sofre com a praga do etnocentrismo. Mas isso é uma distorção da Ortodoxia, não fidelidade a ela. E não é em toda parte. Já estive em paróquias mais ou menos focadas na etnia, ou que não eram focadas de modo algum, e nenhuma delas exigia carteirinha étnica para entrar. A Ortodoxia é realmente uma fé universal que criou numerosas culturas e línguas ao longo dos séculos.
Se povos tão diferentes quanto árabes, gregos, sérvios, georgianos, russos, estonianos e finlandeses podem todos cantar sob a mesma fé, e se tanto seus jovens quanto seus idosos cantam juntos, então, verdadeiramente, todos são bem-vindos (embora alguns ortodoxos precisem ser lembrados disso mais do que outros).
8. A Ortodoxia é uma fé para a pessoa inteira.
Nós não nos sentimos apenas tocados emocionalmente pela beleza, mas ansiamos por estar perto dela, de cria-la o quanto for possível. Mais do que qualquer outra expressão da fé cristã, a Igreja Ortodoxa sabe como envolver o adorador com beleza em todos os cinco (ou mais) sentidos, tanto a beleza sobrenatural que transporta o adorador quanto a beleza sobrenatural que transforma o terreno.
Seria possível falar disso como estética, mas não se trata de “mera” estética no sentido de algo que apela somente aos sentidos, talvez por entretenimento mas que não leva a nada. Trata-se de estética no mesmo sentido em que o próprio Deus é beleza. É por isso que a Ortodoxia, embora seja às vezes familiar ou “caseira”, nunca é brega. É atual e atemporal, mas nunca “contemporânea”.
A beleza da Ortodoxia se dirige ao todo da pessoa humana de múltiplas formas. Não é uma fé só para a “alma” ou para o “coração”, mas para o corpo também, incluindo nossa capacidade de apreender a beleza.
9. Deus realmente te ama do jeito que você é, e Ele te ama tanto que Ele não vai te deixar desse jeito.
Parece existir uma batalha constante hoje em dia, especialmente dentro do Protestantismo, sobre se Deus deve ser entendido como amor ou como juiz. Mesmo os que pregam que Deus é amor ainda tendem a pregar um Deus raivoso por causa dos seus pecados e que tem que ser apaziguado. Mas a Ortodoxia prega um Deus que é consistentemente amoroso, um Deus que ama com tal força que Seu amor vai te transformar, bastando que você queira cooperar com isso. A mudança também não será “besta” também, não se trata de te transformar em um santarrão moralista. Ao invés, irá te dar uma personalidade autêntica, na qual a virtude é buscada para termos comunhão, e não por adesismo a regras arbitrárias.
10. A Ortodoxia é tanto mística quanto racional.
Alguns ortodoxos fazem uma oposição entre o místico e o racional, mas isso é um erro em minha opinião. Embora tenhamos muita teologia apofática (teologia que enfatiza nossa habilidade de conhecer Deus em nossas mentes), existe também muita teologia catafática (teologia que esclarece alegações positivas de verdade) na tradição da Igreja. Não temos que escolher uma ou outra, e nem mesmo elas são duas alternativas uma para outra. A teologia apofática não é um mero corretivo da teologia catafática. Ao invés, ambas são simplesmente modos de falar de ênfases diferentes dentro da Ortodoxia.
Não é como se, ao oficiar a Divina Liturgia, eu ligasse a parte “racional” para pregar o Evangelho e então mudasse para o modo “místico” quanto bebo do Cálice. Todas essas coisas ocorrem simultaneamente. Eu amo isso, e realmente não encontrei nada semelhante em lugar nenhum fora da Ortodoxia.
11. A Ortodoxia é ascética.
Nenhum grupo cristão leva o asceticismo tão a sério quanto a Ortodoxia. O Catolicismo Romano tem ascese em sua tradição, mas é vastamente ignorado. A Ortodoxia espera que todos os cristãos jejuem, façam vigílias, desapeguem-se de posses, etc e provê um programa para como fazer isso. Você não tem que inventar nada, porque a tradição já estabeleceu isso. E também é customizável de acordo com o discernimento pastoral do seu pai-confessor.
O asceticismo é um modo de lutar de verdade com os modos quebrados de funcionamento da vontade humana. Permite que o homem tenha controle de si mesmo de uma forma poderosa de modo que ele possa redirecionar suas forças e energias concedidas por Deus de volta para Ele, e para longe dos apetites mais baixos. O asceticismo não salva ninguém, mas certamente ajuda. Por que? Porque só somos salvos na medida em que o desejamos. O asceticismo nos ajuda a deseja-lo.
E, como pode dizer qualquer um que realmente fez o jejum durante toda a Quaresma e experimentou a primeira mordida de cordeiro assado na Páscoa, o asceticismo realmente tornar as coisas boas do mundo ainda melhores. Longe de ser uma acusação das coisas boas da criação de Deus, o asceticismo devolve a criação para nós, e revela sua beleza de formas que jamais imaginaríamos consumindo-a sem restrições.
12. A Ortodoxia mira mais alto do que qualquer outra fé.
Embora teósis (deificação/divinização) não seja o único modelo de salvação na teologia cristã ortodoxa, certamente faz algumas alegações bem fortes. Existem sugestões de doutrinas de teósis no Catolicismo Romano, e eu não estou ciente de nenhum grupo protestante que ensine isso. Mas é só na Ortodoxia que se aprende que a salvação significa tornar-se por graça o que Cristo é por natureza, que “Deus tornou-se humano para que o homem torne-se divino” (Atanásius, Da Encarnação), a única igreja que expande o tema de tornar-se “coparticipantes da natureza divina” (2 Ped. 1:4). A passagem “Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo” (Salmos 82:6) é levada muito a sério. Você não encontra isso em nenhum outro lugar.
Nem mesmo os pentecostais, que ensina que você pode ser escolhido por Deus, que Deus pode falar através de você, ensinam realmente que você pode alcançar uma tal união com Deus que você começa a expressar os atributos divinos. Mas é exatamente isso que a Ortodoxia ensina, que a transfiguração, a morte, a ressurreição e a ascensão de Cristo são o que verdadeiramente constituem o ser cristão, que a humanidade está agora sentada no Trono do Próprio Deus e que estar em Cristo significa estar sentado ali também.
Bastante ousado. Mas por que aceitar menos?
10 de fevereiro de 2014
Pe. Andrew Stephen Damick
Original em inglês:
http://roadsfromemmaus.org/2014/02/10/12-reasons-why-i-became-andor-remain-an-orthodox-christian/
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