O cristianismo, quando verdadeiro, é uma forma de vida. Assim, ele
nunca nos abandona, mas ao contrário,
transfigura nossos costumes, os
ilumina, de modo que sem sermos santos ou virtuosos, ainda assim, desejamos,
não por obrigação, mas por puro ato de nossas vontades livres, viver em tudo,
inspirados pelas luzes da nossa fé salvífica.
Muitos dos aspectos dessa manifestação cotidiana de nossa religiosidade, não estão gravados em cânones, não são
necessariamente leis, e nem mesmo se configuram como aspectos fundamentais
sobre o entendimento dogmático da fé, mas são sim, um fruto da Tradição, da
vivencia real da comunidade cristã desde os primeiros dias, e que sustentados
pela graça, prevaleceram como uma forma da natureza do povo de Deus.
E como o Cristianismo
Verdadeiro é uma Forma de Vida, é naturalmente válido preservar esses frutos da
Tradição Viva da Igreja.
Certa vez li uma
boa definição sobre o peso desses santos costumes na vida da Igreja, advinda de
um simples monge da Montanha Santa. Dizia o monge:
"A Tradição é o meio
pelo qual, o caráter corruptor da passagem do tempo é abolido".
E é exatamente assim! Se nós nos descuidamos da tradição (que é um continuo
ato de transmissão, de uma geração mais velha para a mais nova, e isso é
amor), nós tornamos todos os atos de nossa vida como descuidados.
E se a vida é o dom mais precioso que Deus nos deu, como podemos descuidar dela?
Temos então alguns artigos
deste blog voltados para este tema (a piedade cristã ortodoxa), mas hoje
buscamos neste artigo tratar de forma mais condensada, de elementos mais
rotineiros, fundamentalmente uteis para aqueles que estão dando seus primeiros
passos na direção da Santa Ortodoxia (catecúmenos, recém convertidos, ortodoxos
já batizados mas que se mantiveram um pouco afastados da Igreja, ou mesmo os
que ainda estão desenvolvendo um "namoro de longe", com a Igreja).
Ele pode também ser útil aos párocos
de nossas comunidades, no sentido de melhor educar os leigos, em uma caminhada
de restauração de nossas tradições, que não são meras formalidades, mas ao
contrario, são santos meios de manter a piedade, de uma forma natural e
agradável.
Que Deus permita que estas
singelas considerações sejam uteis!
Aspectos do dia a dia:
Cumprimentos, Saudações.
AO AGRADECER
Ao agradecer a um favor, o uso comum, secularizado, sem a
lembrança de Deus em tudo, nos remete ao "Obrigado". Assim
fazem as pessoas educadas, certamente.
Contudo, a 'boa educação" em uma realidade social no qual a lembrança de
Deus se esvai rapidamente,não abarca a memória da graça de Deus em nossas
vidas.
Assim, agradecemos uns aos outros como se tudo apenas se centrasse em nós.
Um cristão, se deseja agradecer a um amigo que lhe auxilia (seja em algo grande
ou mais simples), vai tratar de desejar ao seu auxiliador aquilo que há de
melhor: A Salvação.
E assim, considerando sempre que o nosso objetivo final, a nossa meta é estar
com Deus para toda a eternidade, o homem cristão agradece a um favor desta
forma:
"Deus te salve
!"
Qualquer um pode compreender que um simples "obrigado", pode ser dito
mecanicamente, sem sentimento real de gratidão, um mero ato de formal
cordialidade.
Contudo, se você diz algo tão fortemente marcado como um desejo pessoal para a
vida do seu auxiliador como um "Deus te salve", cria-se nisso uma
real vinculação afetiva, de concreta gratidão, pois nada mais alto poderia ser
desejado para o bem de alguem.
Experimente dar essa resposta ao vendedor de bilhetes do metro, por exemplo.
Isso poderá ser a única palavra sobre Deus e a salvação dos homens que aquele
seu irmão em Cristo pode vir a receber naquele dia. E isso pode fazer toda a
diferença na vida dele. Quem sabe?
E como podemos responder a este agradecimento e prece,
ofertado a nós por um amigo?
Novamente, o sentido aqui é colocar Deus no lugar certo em nossas vidas: O
centro de tudo.
Por qual razão desejamos ser salvos? Para que Deus seja glorificado! Veja, nossas vidas são uma manifestação da benevolência de Deus. Nós só
existimos em razão de Deus amar, de Deus ser amor. Não há razão para as nossas
vidas, sem considerar o amor para além de todo o entendimento, o amor que vem
de Deus.
Assim, respondemos ao "Deus te salve" com um
"Para a Glória de
Deus".
Pois bom será, para glorificarmos
a Deus, que sejamos salvos. Não
por nós, mas para a Glória de Deus. Será que podemos compreender o
quão significativo é a distinção de "Para a Glória de Deus",
comparado como secular "Por nada..."?
AO VISITAR ALGUÉM
Ao chegar a casa de um amigo,
saudamos a família com um desejo :
"A
Paz para sua casa."
Sobre qual paz estamos fazendo menção? Certamente: A Paz Verdadeira, a Única
Paz , a Paz de Cristo.
Se desejamos Paz, é em razão de trazermos conosco esta mesma paz, a luz em nós
da fé no Salvador, a certeza de que Cristo Ressuscitou, que Vive, e que ilumina
a todos os que O seguem.
Um cristão é um luzeiro ambulante. Ele vai e carrega consigo a luz de
Cristo. Ele é um propagador da Paz, um emissário desta Paz.
E como responde o anfitrião
cristão a esta manifestação de amor vinda do visitante? Com a retribuição que
os identifica como membros do mesmo rebanho:
"É
recebido com Paz."
Logicamente, o anfitrião fala da mesma e luminosa Paz do Senhor. Aquela que pôs
fim a todas as contendas do mundo.
SAUDAÇÃO ENTRE OS PADRES
Entre os clérigos
(diáconos, presbíteros e bispos), há uma saudação especial, que marca a certeza
entre os membros do clero, de que a graça do Espirito Santo derramada sobre os
Santos Apóstolos de Cristo, permanece viva entre os sacerdotes da Igreja Una.
Dizem então, um ao outro, o mais velho ao mais novo:
"Cristo Está Entre Nós !"
Ao que se responde:
"Está e Estará!"
Essa saudação é própria dos membros do clero, pois marca a condição da graça
santificante, derramada de modo especial sobre a Igreja em seus clérigos, os
Pastores do Aprisco do Senhor.
Sacerdotes que se cumprimentam fazendo menção ao Cristo que os une (entre eles,
aos Pais da Igreja, aos que viram ainda antes da Parousia), podem com mais
facilidade nunca esquecer, que a despeito dos aspectos mais formais dos ritos e
formulas litúrgicas, o que torna tudo sagrado na ação sacerdotal, é a graça
santificante, o Cristo entre eles, pela ação do Espirito Santo, que a tudo
preenche.
Quando das Festas da Santa
Natividade e da Santa Páscoa da Ressureição do Senhor
Quando o mundo comemora os
ganhos pecunarios da "Festa de Natal" e o "Domingo de
Páscoa", os cristãos guardam nesses dias as alegrias espirituais da Transfiguração da Natureza Humana
em virtude da Encarnação de Deus entre
os homens e a Destruição da
Morte e do Inferno, por obra da Ressurreição de Cristo.
NO NATAL
Logo, o jubilo diante da lembrança desses eventos definitivos
e os mais importantes da historia humana (da própria condição humana), são
tratados de forma distinta pelos cristãos, que quando da Natividade de Nosso
Senhor, Deus e Salvador, dizemos com verdadeira alegria:
"Cristo Nasceu!"
Veja, é um anuncio jubiloso, é uma partilha da fala dos Anjos aos Pastores, é
um clamor ao mundo sobre o fim de nossa condição desgraçada. Eis que um simples
"Feliz Natal" não abarca isso!
Afinal de contas, como pode existir um "Natal infeliz"? Eu devo
desejar que você tenha um "Natal legal"? Pois há chances de se
transformar o sentido absolutamente transformador da Natividade? Depende então
do meu humor?
Não queridos! A Natividade aconteceu! Eis que estamos diante de uma
maravilha, do impensável, da dispensação da graça maior, do Esvaziamento de
Deus, da Encarnação!
E como se responde ao
"Cristo Nasceu"? Será com um indigente "Ah! É mesmo!"? Não, não...
Diante de uma noticia feliz, extraordinária, da mais extraordinária das
noticias, nós simplesmente reconhecemos a nossa pequeneza diante do Mistério
Sagrado e respondemos com toda a fé na realidade da notícia:
"Glorifiquemo-Lo!"
Nós damos glória a Deus pela Encarnação! Nós rejubilamos, nós nos encantamos,
nós sabemos que algo verdadeiramente extraordinário, sem igual, ocorreu, e para
o nosso bem, por obra do Amor de Deus. Não é um simples feriado, não é uma mera festividade. É o anuncio de um
mistério tremendo, insondável, diante do qual nos curvamos, com fé e temor.
NA PÁSCOA
A Santa Ressurreição de Nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus Cristo, é a "Festa das Festas", é o
ápice da vida dos cristãos, é o anuncio anual sobre a nossa esperança.
Por razões comerciais, o mundo fez
na Santa Natividade a "festa de Papai Noel", transformando a memória da Encarnação de Deus entre os Homens no grande feriado comercial mundial. E
nisso, a Santa Ressurreição de Cristo é caracterizada como o "festival
anual do chocolate".
O cristão deve lutar para não
trazer para a sua vida, as marcas deste escárnio, e quando do tempo luminoso da Santa Ressurreição do Senhor, devemos clamar com a mais
vívida alegria:
"Cristo Ressuscitou !"
Eis o brado que diz tudo, absolutamente tudo sobre nossa esperança, sobre as razões para nada neste "vale de
lágrimas" ser o suficientemente grave para nos fazer perder a fé. O Senhor
Deus e Homem, que Encarnado transfigurou a nossa carne, uma vez morto pela maldade dos homens, ao Terceiro Dia
Ressuscitou, tendo através de Sua morte destruído a própria morte e o (poder)
do inferno. Tudo está absolutamente resolvido, e foi pelo Cristo, não por
nossos esforços.
Quando então recebemos esta
saudação-notícia, a reafirmamos como uma prova de nossa adesão ao Senhor:
"Em Verdade Ressuscitou
!"
O mundo nega a Ressurreição, pois
para se manter em iniquidade não
pode reconhecer a Páscoa Santa e seus efeitos, dái buscar tranformar o Rio de Fogo saído do Sepulcro vazio
em um rio de chocolate. Mas nós devemos evitar nos confundir com o mundo, e
estando nele, confirmar sem medo: Em Verdade Ressuscitou!
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