segunda-feira, agosto 26

Ao Meio da Viajem

Cheguei à Polônia no dia 11 de julho de 2013. Agora já completa um mês e meio que peregrino por terras polonesas. Tudo aqui é muito grande para os padrões brasileiros: grandes igrejas, grandes mosteiros, grandes celebrações.


O objetivo básico desta minha viagem à Polônia é entender um pouco mais sobre a Música Litúrgica na Igreja Ortodoxa e aproveitar para viver a realidade de uma grande Igreja. Estas duas coisas tenho feito com muito proveito para a nossa Igreja do Brasil. 

A minha viagem começa com celebração da Divina Liturgia na Catedral de Lublin, com o Arcebispo Abel. Em seguida partimos para o Mosteiro de Turkowice para a Festa do Ícone da Mãe de Deus de Turkowice: grande festa com muitos padres e bispos (15.07).

Fico no Mosteiro de Turkowice por três semanas. A rotina diária do mosteiro é Ofício às 5:00 h da manhã, trabalhos e Ofício às 17:00h. Nos intervalos tive aulas intensivas de Música Litúrgica Bizantina com Matka Euphalia: muito proveitosas a aulas que me deram uma visão geral sobre esse tipo de música.

Durante minha estada em Turkowice fizemos uma viagem à grande Lavra de Puchaev, Ucrânia, (23 a 26.07) muito conhecida pelos seus santos e milagres ocorridos. Lugar de peregrinação, Puchaev é surpreendentemente grande e agitado pelos inúmeros fiéis que o visitam. Lá, fomos recebidos pelo Metropolita de Puchaev que nos ofereceu um almoço. Conversamos sobre Igreja e sobre a Igreja do Brasil.

Após a viagem a Puchaev passo mais alguns dias em Turkovice e retorno para Lublin para a Festa da Transfiguração (06.08), festa da Catedral. No dia seguinte vamos à Paróquia de Sant’Ana celebrar a Festa de Sant’Ana: liturgia festiva com ordenação presbiteral. Em seguida saímos para o Mosteiro de Santo Onofre.

Passo um pouco mais de uma semana no Mosteiro de Santo Onofre. Rotina do Mosteiro: Ofício 6:00h da manhã com Liturgia, refeição, trabalhos, Ofício 17:00h. Neste mosteiro também tenho aulas de música litúrgica com Pe. Dionísio. Muito proveitosas as aulas com o Pe. Dionísio que me dá uma amostra geral de tudo que se canta na Polônia: todos os tipos de música.

Durante minha estada em Jableczna (Santo Onofre) fomos ao Mosteiro de Suprasl para a Festa do Ícone da Mãe de Deus de Suprasl (10.08): grande festa com a presença de S. Beatitude Dom Sawa e demais bispos. Após a festa retorno para Jableczna.

No dia 17 de agosto partimos para o Mosteiro de Grabarka para a grande Festa da Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa é uma das maiores festas da Polônia: muitos peregrinos vão a pé cerca de 200 km carregando cruzes até o mosteiro. Há celebrações de Ofícios durante todo dia e noite; ouvem-se cânticos o tempo todo: parece que estamos em outro mundo. É muito forte a experiência em Grabarka: a fé do povo é quase palpável! São milhares de pessoas assistindo a tudo em pé, sem se cansar!

Após o almoço da Festa, 19.08, deixo Grabarka em direção ao Mosteiro de Saki, onde permanecerei por uma semana. Rotina do mosteiro: Ofício às 5:00h com Liturgia, refeição, trabalhos, Ofício às 17:00h. Durante minha estada em Saki visito o Mosteiro de Santa Catarina, da Madre Elizabeth, que por enquanto vive só no Mosteiro.


+ Ambrósio
Bispo Ortodoxo de Recife



Confira algumas fotos:




















Assista às filmagens da Festa da Transfiguração de Nosso Senhor, Deus e Salvador Jesus Cristo em Grabarka:







CANAL OFICIAL NA POLÔNIA:

sábado, agosto 24

Uma Mata Escura cada vez mais Clara


Neste sábado(24) o Arquimandrita Jerônimo e o Padre Emiliano, acompanhados dos fiéis Adriano, Antônio e João, visitaram as missões na Aldeia Indígena Mata Escura e Comunidade Catolé. Após algumas semanas de ausência devido à necessidade da presença dos padres em outras comunidades, os padres retornaram a visitar o povo nesta região que, apesar do difícil acesso e distância entre as comunidades, tem se dedicado a descobrir cada vez mais a Fé Ortodoxa. O encontro contou com a presença de alguns membros que, no total, chegam a cerca de trinta pessoas. Esta é a primeira missão ortodoxa que trabalha diretamente com indígenas. A aldeia recebeu a visita de nosso Arcebispo Dom Crisóstomo quando em sua visita ao nordeste. Como a missão ainda está engatinhando, não possui templo dedicado ou erguido e os encontros acontecem dentro de uma salinha circular em forma de oca, usada nas aulas para as crianças (curumins) e celebrações locais. Porém, já se especula a possibilidade de, em um futuro próximo, iniciarem a construção. Claro, sem deixar de ter ciência de que há uma necessidade urgente de erguer o templo espiritual em cada um à Luz da Fé Ortodoxa.














domingo, agosto 18

Dom Ambrósio visita Fortaleza



Fortaleza-CE, Março de 2013


A convite do fiel Tiago, o Exmo. Rvmo. Bispo Ambrósio, foi a Fortaleza-CE para expor a Fé Ortodoxa, afim de esclarecer questões e ver as possibilidades da criação de uma comunidade missionária na capital do Ceará. O bispo falou dos concílios, a iconografia, dando enfase a Sagrada Tradição. O encontro ocorreu no Museu do Ceará e contou com a participação de algumas pessoas seguidoras da fé, além da Historiadora Cristina Holanda, o Coordenador do IDECC - Instituto de Desenvolvimento, Educação e Cultura do Ceará e a iconógrafa Maia Fonseca. 


Local: Museu do Ceará.






CONFIRA AS FOTOS:







sábado, agosto 17

O Pai Espiritual

Este texto foi retirado do blog O CETRO REAL. A quem agradecemos pela fiel dedicação à difusão da Fé Ortodoxa no Brasil. Deus vos salve! Destacamos a introdução do Diác. Marcelo.

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Muitos são os artigos do Cetro Real que trazem os ensinamentos espirituais de Anciãos, Pais Espirituais, que dotados de uma iluminação espiritual concedida pelo Espírito Santo de Deus, provem aos que buscam seguir no caminho da Verdade, as mais lúcidas orientações sobre como compreender a Lei de Deus, as formas de como lidar com as batalhas do mundo, em busca da Salvação. Hoje tratamos de compreender o que vem a ser exatamente o Pai Espiritual, as características que nos ajudam a identificar esses Servos de Deus no mundo, e a importância desses na vida espiritual dos cristãos ortodoxos. O papel desenvolvido pelos Anciãos na Igreja Ortodoxa não encontra precedentes na heterodoxia, muito em razão do arraigado secularismo (intelectualismo, enciclopedismo) natural as vertentes cristas aparteadas da Santa Igreja. O texto foi justamente concebido pelas orientações de um desses santos servos de Deus, o Ancião Porphyrios, no material registrado no livro “ The Orthodox Way” de autoria do Metropolita Kallistos Ware





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O que vem a ser um Pai Espiritual?

O Pai Espiritual(Geronta em grego,Staretz em russo),não precisa necessariamente ser um homem velhoem anos, mas ele deve ser sábio em sua experiência sobre a verdade divina, sendo abençoado com a graça da "paternidade espiritual", tendo assim o carisma de guiar os outros no caminho da Verdade.

O que ele oferece aos seus filhos espirituais não é primariamente uma instrução moral ou uma regra de vida, mas uma relação pessoal. "O Pai Espiritual (staretz)",diz Dostoiévski,"é aquele que leva a alma e a vontade dos seus filhos espirituais, em sua alma e em sua vontade". Os discípulos do Ancião Zacarias costumavam dizer sobre ele:" É como se ele carregasse os nossos corações em suas mãos."

O Pai Espiritual é um homem dotado de paz interior, e através dele, milhares podem encontrar a salvação. O Espírito Santo lhe dá como fruto de suas orações e abnegação, o dom do discernimento e discriminação, permitindo-lhe ler os segredos dos corações dos homens, e é assim que ele responde, não só as questões que os outros que lhe instam, mas muitas vezes responde a aquelas perguntas, quase sempre de fundamental importância, que nem sequer o filho espiritual pensou em fazer. Combinado com o dom do discernimento, ele possui também o dom do poder espiritual da cura para restaurar as almas dos homens, e às vezes também dos seus corpos.

Essa cura espiritual ele oferece não apenas através de suas palavras de aconselhamento, mas através do seu silêncio e sua presença. Por mais importante que os conselhos possam ser, muito mais importante porem é a sua oração de intercessão. Ele reza constantemente por seus filhos, identificando-se com eles, aceitando as suas alegrias e tristezas como sendo as suas próprias, levando nos ombros o fardo de suas culpas ou ansiedades.

Ninguém pode ser um Pai Espiritual se não rezar insistentemente pelos outros. Se o Pai Espiritual é um padre, normalmente o seu ministério de direção espiritual está intimamente ligado com o sacramento da confissão. Mas um Ancião no sentido pleno, como descrito por Dostoiévski ou exemplificado pelo padre Zacarias, é mais do que um padre confessor e ele não pode ser assim nomeado por qualquer autoridade. 

O que acontece então, é que o Espírito Santo, falando diretamente ao coração do povo cristão, torna claro que esta ou aquela pessoa foi abençoada por Deus com a graça de guiar e curar os outros. O verdadeiro Pai Espiritual é, neste sentido, uma figura profética, e não um funcionário institucional. 

Apesar de ser mais comum que o Pai Espiritual seja um monge sacerdote, ele também pode ser um sacerdote casado que atenda a uma paróquia, ou então um monge leigo não ordenados para o sacerdócio, ou mesmo (em um caso menos freqüente), uma monja, ou um leigo (mesmo uma mulher) que viva no mundo. Se o Pai Espiritual não é ele próprio um padre, depois de ouvir os problemas das pessoas e lhes ofertar conselhos, ele deve com enviar essas pessoas as quais orienta, para um padre que lhes preste a confissão e absolvição sacramental.

A relação entre o filho e o pai espiritual varia de caso a caso. Alguns visitam seu Pai Espiritual apenas uma ou duas vezes na vida, em um momento de extraordinária crise , enquanto outros estão em contato regular com os seus orientadores, os vendo mensal ou diariamente. Não há regras e a vinculação cresce por si só, sob a direção imediata do Espírito Santo. E esta relação será sempre pessoal. O Pai não aplica regras abstratas tiradas de um livro, mas sim, vê com especial atenção, o homem ou a mulher que está diante dele; e iluminado pelo Espírito Santo, procura transmitir a vontade única de Deus especificamente para essa pessoa.

Devido a isso, o verdadeiro Pai Espiritual compreende e respeita o caráter distintivo de cada um dos seus filhos, não buscando eliminar a sua liberdade interior, mas a reforçando. Ele não tem por objetivo suscitar uma obediência mecânica, mas sim, levar os seus filhos a um ponto de maturidade espiritual, onde eles possam decidir por si próprios.

Ele faz com que cada um dos seus filhos descubra a sua verdadeira face, que antes era em grande parte feita oculta daquela pessoa, e sua palavra, sendo criadora e vivificadora, permite que seus filhos realizem tarefas que antes lhes pareciam impossíveis. Mas tudo isso, o Pai Espiritual só pode realizar se ele amar verdadeiramente, cada um dos seus filhos espirituais, pessoalmente. Além disso, o relacionamento é mútuo, e o Pai Espiritual nada pode fazer se aquele ao qual ele orienta não tem um sério e verdadeiro desejo de mudar o seu modo de viver, abrindo o seu coração, com amor e total confiança em seu Pai Espiritual.

Quem vai ver um Ancião com um espírito de curiosidade espiritual provavelmente voltará desta visita com as mãos vazias. Justamente em razão do relacionamento Pai & Filho Espiritual ser sempre pessoal, um orientador não poderá ajudar a todos indistintamente. Ele só pode ajudar aqueles que são especificamente enviados pelo Espírito Santo.

Desta forma, o discípulo não deve dizer: "Meu Pai Espiritual é melhor do que todos os outros." Ele deve dizer apenas: "Meu Pai Espiritual é o melhor para mim". Para orientar os outros, o Pai Espiritual atende a vontade e a voz do Espírito Santo. "Vou dar apenas o que Deus me diz para dar", disse São Serafim. "Acredito que a primeira palavra que me vem, é inspirada pelo Espírito Santo". 

Obviamente, ninguém tem o direito de agir desta forma, salvo se através do esforço ascético e da oração, atingir uma consciência excepcionalmente intensa da presença de Deus. Para quem ainda não atingiu esse nível, tal comportamento seria presunçoso e irresponsável. O Ancião Zacarias fala nos mesmos termos, como São Serafim:

“Às vezes um homem não sabe mesmo o que ele vai dizer. O próprio Senhor fala através dos seus lábios. É preciso rezar assim: "Ó Senhor, que vive em mim, Você pode falar através de mim, Você pode agir através de mim."

Quando o Senhor fala através dos lábios de um homem, então todas as palavras do homem são eficazes e tudo o que é falado por ele vai se cumprir. A relação entre pai e filho espiritual se estende para além da morte, até o Juízo Final. O ancião Zacarias tranquilizava os seus seguidores dizendo: "Depois da morte serei muito mais vivo do que sou agora, portanto não chorem quando eu morrer... No dia do juízo cada pai espiritual dirá, : Aqui estou eu e os meus filhos." São Serafim pediu estas palavras marcantes para ser inscrito na sua lápide:

“Quando eu morrer, venha ate mim no meu túmulo, e quanto mais vezes o fizer será melhor. Seja qual for a sua alma, o que tenha acontecido com você, venha a mim como o fazia quando eu estava vivo, e ajoelhado no chão, toda a sua amargura virá para minha sepultura. Conte-me tudo, pois eu vou ouvir você, e toda a amargura que você guarda irá voar para bem longe de você. E assim como você falava comigo quando eu estava vivo, faça agora. Pois eu estou vivo e vou viver para sempre.”

Nem todos os ortodoxos têm um pai espiritual. E o que podemos fazer, se procuramos um guia e não conseguimos encontrar um? É claro que é possível aprender a partir de livros; pois se temos ou não um Pai Espiritual, nós devemos ter a Bíblia como uma orientação constante. Mas a dificuldade com os livros é saber o que precisamente se aplica a mim, pessoalmente, neste ponto específico sobre a minha jornada. Em relação aos livros, assim como há a paternidade espiritual, há também a fraternidade ou irmandade espiritual, que se consiste na ajuda dada a nós não por professores em Deus, mas pelos nossos condiscípulos.

Contudo, todos aqueles que se comprometam seriamente com o caminho da verdade, devem empreender todos os esforços para encontrar o seu Pai no Espírito Santo. Isso não significa dizer que todos vão encontrar um Pai Espiritual como São Serafim ou como o Padre Zacarias, e sobre isso, devemos tomar cuidado para que em nossa expectativa de algo aparentemente mais espetacular, não acabarmos por negligenciar aquela ajuda que é ofertada verdadeiramente por Deus. Pois alguém que aos olhos dos outros pode ser um tipo comum, pode ser o seu Pai Espiritual, sendo capaz de falar a você, pessoalmente, aqueles palavras de fogo que você mais necessita ouvir. 








Breve História da Igreja - Parte III

Este texto foi retirado do blog O CETRO REAL.



“Nova Roma”; o segundo Concílio (381 d.C.)


O Imperador Constantino pôs outra enorme mudança em movimento quando moveu a capital do Império Romano de Roma para Bizâncio, uma obscura aldeia na Grécia não distante de Nicéia. Em breve se tornaria conhecida como Constantinopla o Nova Roma, e foi lá que o Segundo Santo Concílio foi realizado em 381[1]


No primeiro Concílio a questão principal era a divindade de Cristo; este Segundo Concílio tratou sobre a divindade do Espírito Santo. O ensinamento genuíno de que o Espírito Santo é Deus foi santificado pelos Padres do Concílio em afirmações que agora formaram a segunda parte do Credo que cantamos todo Domingo na Divina Liturgia.

Um outro modo de esta doutrina ser sacralizada foi feito por um ato pioneiro de São Cirilo de Jerusalém. Para a Liturgia Eucarística ele adicionou uma invocação explícita ao Espírito Santo para descer sobre os Dons e efetuar a sua transmutação no Corpo e Sangue de Cristo. Esta invocação é chama de epiclese, e várias Igrejas a adotaram em seus ritos[2].

Padronização da Liturgia

Algum tempo antes de 450 d.C. uma grande transformação ocorreu no modo como a Liturgia era celebrada em Roma. Originalmente era feita em grego, até que o Papa São Victor começou a usar o latim. 

Em algum ponto, o qual nenhum pesquisador foi hábil o suficiente para descobrir precisamente, as orações foram rearranjadas, e o conciso e simétrico Cânone Romano foi estabelecido. Após isto, as mudanças realizadas no Rito Romano foram menores, ao menos após o Pai-nosso e o Kyrie terem sido postos no lugar por São Gregório (cerca de 600 d.C.). 

O Rito Romano esteve presente na Espanha no século V e se desenvolveu independentemente no Rito Mozarábico. Na Gália, o Rito Gaulês, um rito latino com feições orientais, era usado. Em Milão, um rito semelhante ao Romano, chamado Ambrosiano, se desenvolveu independentemente. No Oriente, São Basílio codificou a Liturgia e desta São João Crisóstomo (século V) produziu uma versão concisa. Estas duas liturgias, juntamente com as horas de oração do monastério se São Sabbas perto de Jerusalém, foram a fundação para a Liturgia Bizantina. Outras importantes liturgias orientais foram as de São Marcos (Rito Copta) e de São Tiago (Liturgia Síria).

Quase que todos os ritos orientais e ocidentais citados acima tem sido usados na Igreja Ortodoxa dos tempos atuais, mesmo que apenas ocasionalmente. Mas o Rito que é a herança espiritual da vasta maioria dos Ortodoxos de hoje é o Bizantino.

“Ortodoxia”

Sempre, desde os primeiros quatro Concílios, o termo mais usado de denotar nossas crenças tem sido “Ortodoxia”. Isto vem do grego “orthos”, “correto, direito”, e “doxa”, “glória, adoração”. Os Ortodoxos, portanto, são aqueles que adoram a Deus de modo correto e verdadeiro, com uma crença correta. 

Esta palavra o tinha significado especial naqueles dias antigos de “alguém que aceita todos os Concílios” (no oriente e no ocidente, a palavra “Católico” continuou sendo usada para descrever a Igreja, porém, como veremos, “Católico” e “Ortodoxo” atualmente conotam fés diferentes).

Quatro Padres

Quatro grandes e santos homens abençoaram a Igreja quando da passagem do IV para o V século. Santo Atanásio foi (quase que) sozinho responsável pelo sucesso do Concílio de Nicéia quando sua popularidade enfraqueceu e isto o fez merecer o título de “pilar da Ortodoxia”. Quando era ainda um Diácono ele denunciou o Bispo Arius, e quando retornou de Nicéia ele foi feito Papa de Alexandria[3]. Logo, porém, ele foi exilado de sua vista, e viajou pelo ocidente e oriente escapando por um triz das garras de hereges raivosos. Pelo percurso de cinco exílios ele escreveu cartas, guiou o seu rebanho de longe, e preservou um irrepreensível senso de humor, uma de suas mais efetivas armas em seu arsenal espiritual. Santo Atanásio repousou em Cristo em 373.

São João Crisóstomo (Boca de Ouro) fez o seu início como humilde eremita na Síria, ganhou fama como um Padre e pregador em Antioquia, e então foi forçado a ser Arcebispo da Nova Roma, Constantinopla. Seu zelo pela virtude (uma área em que o casal imperial era marcadamente deficiente) atraiu a fúria imperial. João foi exilado da Nova Roma repetidamente. Quando ele morreu em 407, ele deixou uma vasta herança de cartas, sermões e comentários. Ele é especialmente amado atualmente por ter dado à Igreja a mais usada Liturgia usada para a Eucaristia.

Outro Santo influenciou os mundos ocidental e oriental, mas veio da Iugoslávia (Sidonium). São Jerônimo se mudou da Velha Roma para Belém e como Padre e monge viveu o resto de sua vida no local onde Cristo nasceu. Ele traduziu os livros da Bíblia do grego, hebraico e aramaico para o latim usando antigos manuscritos que não resistiram até hoje. Sua grande obra é chamada a Vulgata Latina, e é a versão na qual a Bíblia de Douay-Rheims[4] é baseada. Pelo ano 400, a Igreja tinha decidido quais escritos eram para ser incluídos na Bíblia, e nossa lista não mudou desde então.

O grande gigante do ocidente foi Santo Agostinho da África, um homem que veio à Cristo tarde na vida. Após muitos anos como maniqueu herético de vida transviada, Agostinho foi convertido através do Novo Testamento e a pregação de seu amigo Santo Ambrósio, bispo de Milão. Ele se tornou bispo de Hipona na África, onde ele deu conta de muitas heresias de todos os tipos. Ele é uma figura controversa porque sua pena frequentemente (.....) seu coração amante de Deus, e suas especulações produzidas pela lógica foram mais tarde usadas para desenvolver doutrinas Católico Romanas e Protestantes, as quais terão de ser fatalmente discutidas neste livro. De qualquer modo, no fim de sua vida de serviço à Deus, Agostinho escreveu um livro inteiro de retratações, deixando tudo o que tinha escrito ao julgamento da Igreja, e faleceu no odor da santidade, deixando a nós uma herança tão massiva quanto à de São João Crisóstomo.

O Terceiro Concílio – 431 d.C.

No ano após Santo Agostinho ter repousado, a Igreja convocou o Terceiro Santo Concílio em Éfeso, aonde o Apóstolo João e a Virgem Maria tinham vivido. Nestorius, o Patriarca de Constantinopla, estava traçando uma tal linha de distinção entre o lado humano de Cristo e seu lado Divino, pois ele disse em um sermão de Natal que era indigno adorar um Deus em uma manjedoura! 

O Santo Concílio o depôs e afirmou que, por causa de Cristo ser Deus e homem, a Virgem Maria é verdadeiramente Theotokos, Mãe de Deus. Nestorius se dirigiu ao oriente, “consagrando” muitos clérigos, e fundou muitas igrejas, todas separadas da Ortodoxia, e chamando-o de São Nestorius. Mas o próximo Concílio trataria de uma apostasia ainda mais terrível.

O Quarto Concílio – 451 d.C.

Houve aqueles que foram tão longe em evitar o Nestorianismo que desenvolveram outro erro, o Monofisitismo (do grego, “uma natureza”). Estes pregavam que as naturezas Humana e Divina de Cristo estavam tão unidas que tinham se fusionado em uma única natureza humano/Divina (sendo assim nem verdadeiramente humana nem verdadeiramente Divina). 

O argumento se tornou ameaçador. A Imperatriz Santa Pulcheria convocou um Concílio Geral na Calcedônia para solucionar o dilema, e, assistidos por um evidente milagre ocorrido no túmulo da antiga Mártir Eufêmia[5]  os Padres decidiram contra os Monofisitas. Tristemente, por razões religiosas e políticas, uma grande denominação dissidente se formou incluindo Coptas Egípcios, Jacobitas Sírios e seus seguidores na Índia. Este grupo rejeitou o Quarto Concílio (e os seguintes). 

A Ortodoxia proclama duas naturezas em Cristo – Divina e humana, distintas, nem misturadas nem divisíveis. Recentemente este ensinamento tem está sob ataque. Muitos líderes Ortodoxos agora afirmam que os Monofisitas atuais não acreditam no Monofisitismo clássico, e que os Ortodoxos deveriam se unir com eles. Os Monofisitas têm respondido de modo a amenizar suas afirmações históricas. De qualquer modo, Ortodoxos tradicionais ficaram alarmados com um plano de união formulado em Chambersy, Suíça, em 1990, um plano composto por representados da maioria dos Patriarcados Ortodoxos.

Falhou em afirmar que os Cristãos Monofisitas deveriam aceitar o Quarto e todos os Concílios seguintes. Condenações do Plano de Chambesyn surgiram no Monte Athos, no Patriarcado da Geórgia, e clérigos tradicionais em todo lugar. Os Ortodoxos sentem que têm mais fundamentos em comum com os Monofisitas que com quaisquer outros Cristãos separados, mas enquanto quase que metade dos Concílios Ecumênicos forem rejeitados, não pode haver uma união verdadeira.

Roma Cai

Transtornada pela decadência moral, enfraquecida por conflitos internos, e cambaleando pelo revés econômico e ideológico causado por Constantino ao relocou a Capital para Constantinopla, a Velha Roma, ficou abalada no século V por repetidas ataques bárbaros. Finalmente, em 476, Roma caiu definitivamente sob invasores pagãos. Muitos pensavam que o mundo havia acabado, pois a Cidade, o centro primordial de aprendizagem Ocidental, civilização e ordem havia ruído. 

A repercussão para a Igreja de Cristo foi grande, especialmente à longo prazo, pois enquanto a ordem pública na Itália havia se desintegrado, os Papas de Roma foram forçados por pura compaixão de assumir um novo papel semi-governamental. Eles começaram a fiscalizar doações públicas e a mediar e até mesmo mandar em assuntos públicos. Não muito tempo depois, o domínio de Roma se tornou um governo propriamente dito. Por tanto tempo quanto homens santos e capazes guiaram a igreja Romana, o arranjo funcionou, porém em anos mais distantes o provérbio “o poder corrompe” se provou verdadeiro. Lentamente, pelo curso dos próximos 300 anos, a atitude de que os Papas comandavam a Igreja se manifestou e alarmou as outras Igrejas locais.

Uma Dádiva Divina

Apenas quatro anos após Roma cair, São Benedito(Bento), o grande nasceu na Nórcia, Itália. Escolado em Roma, ele a deixou ainda rapaz para procurar a Cristo como um eremita vivendo dentro de um caverna na selva. Ele teve muitos discípulos, e escreveu uma Regra para os guiar na vida monástica. A Sagrada Regra revelou Benedito como sendo um gênio de discrição e moderação. A rigidez do ascetismo dos monges orientais ele adaptou ao caráter ocidental, insistindo mais em obediência e trabalho interno do que jejum e trabalhos exaustivos. São Benedito é conhecido como o Pai da Civilização Ocidental, pois os monastérios foram por muitos anos os únicos oásis de estabilidade e estudo em um mundo bárbaro. Eles alimentaram os pobres, salvaram os livros, ensinaram às pessoas como lê-los, e cultivaram uma nova ética, ensinando ao mundo que o trabalho manual é honorável[6].

Muitas pessoas atualmente desaprovam o Cristianismo baseando-se no fato que ninguém está fazendo o que os antigos Cristãos faziam: dividindo suas possessões em comum, renunciando à propriedade privada, rezando diariamente, “trabalhando com as mãos aquilo que é justo”, e outras coisas mencionadas no livro dos Atos na Bíblia. Em monastérios da Igreja Ortodoxa, pelo menos, este modo de vida ainda existe – para a glória de Jesus Cristo.

NOTAS

1. O Concílio foi apenas de Bispos Orientais, porém a Igreja inteira a aceitou.
2. Uma epicleses é encontrada em alguns antigos sacramentários romanos e seus derivados, no velho Rito de Sarum da Inglaterra assim como outros Ritos derivados do Romano.
3. Um Patriarca é o Bispo de um grande centro cristão. “Papa” é o antigo termo genérico para os patriarcas de Roma e Alexandria.
4. A tradução inglesa recomendada pelo nosso Sínodo.
5. Os Padres do Concílio escreveram o ensinamento Ortodoxo em um pergaminho e o dos Monofisitas em outro, então colocaram ambos na tumba de Santa Eufêmia e começaram a jejuar e rezar. Depois de três dias, eles abriram a tumba e encontraram o pergaminho Ortodoxo na mão da Santa e o Monofisita embaixo de seus pés. Eufêmia tinha falado: o caso estava encerrado.
6. Antes o trabalho manual era considerado desprezível, adequado apenas a pobres e escravos.


Retirado de "Uma Breve História da Igreja para Cristãos Ortodoxos", de autoria do Rev.Hieromonge Aidan (Keller)
Tradução para o português de Falko Konig.
O texto é usado aqui por cortesia do monastério de São Hilarion em Austin, Texas.


Breve História da Igreja Ortodoxa - Parte II


Este texto foi retirado do blog O CETRO REAL.




O que mantêm a Igreja unida?



Diferente de outras religiões, a Cristandade Ortodoxa não procura uma burocracia, hierarquia ou papéis de posição para providenciar um foco para a Igreja. O centro da Ortodoxia é a própria adoração à Deus – a Eucaristia, e a celebração do Divino Ofício. 


Por causa disto ser assim, qualquer história fundamentada da Igreja precisa incluir o desenvolvimento litúrgico, mas precisamos evitar a armadilha de tomar um enfoque casual, fatual, como muitos estudiosos fazem. 

A história de nossa Liturgia não é apenas a sucessão arbitrária de adições e mudanças, mas o trabalho de desdobramento do Espírito Santo, guiando a Igreja século por século em uma sagrada e correta adoração a Deus. Nós não adoramos como nós pensamos ser o mais correto, mas como Deus quis ser adorado.

A Era dos Mártires

O período que vem logo em seguida aos Doze Apóstolos é comumente chamada de Era dos Mártires. Assim como a nova Fé se espalhou como fogo rápido, a reação imediata de Satã foi de inspirar uma sangrenta e completa aniquilação da Cristandade. 

É incrível como apesar de todos os obstáculos os Cristãos persistiram em se reunir no Dia do Senhor. Frequentemente eles se encontravam numa casa diferente a cada semana, já que a descoberta significava morte certa.

Muitos Cristãos, já que se recusavam a negar Cristo e adorar deuses pagãos, mesmo por alguma pequena palavra ou gesto, eram mortos sumariamente ou por terríveis torturas. Mas o Senhor usou as suas alegres mortes e seus sofrimentos divinamente corajosos, juntamente com outros milagres estupendos, para tornar os corações de muitas pessoas à Ele.

Longe de destruir a Igreja, perseguições apenas refinaram e fortaleceram-na. Os sobreviventes escreviam os nomes dos mártires em calendários afim de manter um memorial anual de suas vitórias, formando a base do nosso atual calendário da Igreja com os seus Dias Santos.

Cristianismo Deturpado

A provação da Igreja pelo fogo foi espiritual assim como externo.Heresias se desenvolveram como ervas daninhas, e nenhum consenso uniforme de Fé pôde alcança-las. A palavra ‘heresia’ vem da palavra grega hairoumai, escolher. Hereges foram aqueles que escolheram suas próprias crenças ao invés da Fé da Igreja como ela era. 

Os Gnósticos tentaram misturar o cristianismo com um ideal de sabedoria secreta ideal, pensando que a salvação vinha por conhecimentos arcanos, não através da Graça de Cristo. Judaizantes não aceitavam a decisão dos Apóstolos de não observar a Lei Mosaica, e semearam desconfiança e discórdia em todo lugar em que os pastores fossem muito indulgentes com eles. Os seguidores de Marcion acreditavam que o Deus do Antigo Testamento não era o mesmo que o Pai de Jesus Cristo. Os Maniqueus acreditavam que a matéria física é má e somente o puro espírito era bom. Os Montanistas rejeitavam a hierarquia da Igreja para enfatizar fenômenos espirituais espetaculares e pregavam uma nova era do Espírito Santo. Os Sabelianos tinham em conta que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram apenas “máscaras” que Deus vestia em ocasiões diferentes quando Ele fazia diferentes coisas; eles negavam a realidade da Santíssima Trindade. Muito poucas heresias à partir desta época têm sido originais; a maioria têm sido rearranjos destas antigas tolices.

No seio da confusão e amargura postas em movimento pelos movimentos heréticos, a Igreja de Cristo era como um pequeno navio lançado ao mar; contudo Cristo era o seu Piloto, e as ameaças de perseguição e heresia foram ambas superadas. As perseguições terminaram quando o Imperador Constantino, um grande amigo da Cristandade, sobrepujou seus inimigos pagãos, tomou o poder do Império Romano e proclamou o Cristianismo legal (em 312 d.C.; até 392 d.C. se tornaria a religião estatal).

O Primeiro Concílio – Nicéia (325 d.C.)

Estes contratempos de controvérsias foram seguidos de uma vitória espiritual contra a heresia. Um Concílio de todos os Bispos Cristãos foi convocado pelo Imperador Constantino para decidir oficialmente no que a Fé Cristã consistia, pois um sacerdote de nome Arius estava ensinando que Cristo não era Deus, mas meramente um homem único, e ganhando muitos seguidores. 

O Concílio se reuniu em Nicéia e refutou a sua doutrina, escrevendo um sumário da verdadeira Fé que hoje conhecemos como primeira parta do Credo cantado na Liturgia. Ao mesmo tempo, os Padres de Nicéia concordaram em como a data da Páscoa seria definida; requereram que todos os Cristãos ficassem de pé, não ajoelhados, no culto dominical; e resolveram controvérsias clericais. Estas decisões são seguidas até hoje pelos Cristãos Ortodoxos no Ocidente e no Oriente.

Apenas mais algumas observações adicionais. Primeiro, após Nicéia os Cristãos Arianos cresceram muito mais em número do que os fiéis, mostrando que não é a mera força numérica que determina aonde está a Igreja autêntica. Segundo, apesar de ser necessário definir a Fé em termos de linguagem humana para resguardar a Verdade, foi muito doloroso para os Padres de Nicéia fazê-lo. Eles sentiam aguçadamente que a Fé de Cristo era algo para ser entesourada e guardada dentro do coração humano, não enrijecida em uma fórmula.

Nós podemos apenas nos tornar seus herdeiros espirituais se abraçarmos a Fé nas ações em nossas vidas assim como aceitando o seu Credo.

A Era Constantina

Após o Imperador Constantino ter legalizado a Fé Cristã, e esta foi definida claramente no Concílio Geral de Nicéia, mudanças momentâneas sopraram pela Igreja, e nem todos os ventos eram favoráveis.

O Cristianismo normalmente não atraíra usualmente homens ambiciosos; agora eles pretendiam se tornar Padres e Bispos, e com algum sucesso. Houve um grande influxo de conversos, não tão ferventes e sinceros como os conversos haviam sido até então. 

Igrejas públicas eram construídas e substituíram as catacumbas e lares privados como local onde os Sacramentos, ou Mistérios, eram celebrados. Esta nova liberdade permitiu o cultivo e a perfeição da música litúrgica e um florescimento da arte litúrgica, o fundamento para a salmodia e iconografia que embelezam e elevam tanto nosso culto atualmente.

A Era Constantina é o nome comumente dado ao período que se seguiu ao reinado de Constantino, quando os objetivos do Cristianismo e do reino secular em sua maioria se sobrepunham, quando a perícia e recursos da sociedade eram usados para a glória de Deus. Isto beneficiou a Igreja de certa maneira. Por exemplo, Bispos não são conhecidos por trabalharem bem em conjunto, e é possível que sem intervenção imperial nenhum Concílio Ecumênico teria sido convocado. Todos os sete Santos Concílios os quais mantiveram a nossa Fé foram convocados pela invocação de um Imperador ou Imperatriz. 

Na melhor das hipóteses, a sintonia policiada entre a Igreja e o Estado foi vantajosa para a Fé. A desvantagem foi a influência mundana que de tempos em tempos se alastrava para dentro do Santo dos Santos, e isto foi uma preocupação para muitos Cristãos sinceros. 

De fato, toda vez que as autoridades seculares tentaram interferir diretamente nas doutrinas da Igreja, santos Bispos estavam presentes para sacrificar suas vidas, se fosse necessário, para defender a Verdade. Nosso calendário de mártires está repleto de seus nomes.

Monasticismo

Uma reação à influência mundana foi liderada nos desertos do Egito, onde uma vez o Cristo infante havia fugido para escapar das mãos de um déspota mundano. 

Um jovem homem chamado Antônio se retirou ao deserto para servir a Deus em solidão e oração. Santo Antônio foi inevitavelmente rodeado por um grande número de discípulos entusiasmados, e ele os organizou como Monges cristãos. “Monge” vem do grego “monos”, “sozinho”, e primeiramente significava um eremita ou solitário[1]. Os monges renunciaram ao envolvimento secular, às comidas refinadas, à vida casada e á propriedade pessoal. 

Em resumo, seu objetivo era de cumprir não apenas os mandamentos de Cristo, mas também todos os seus conselhos dados nos Santos Evangelhos, como a pobreza voluntária, virgindade, obediência e vida ascética (ascetismo é privação voluntária e luta pelo amor à Deus).

São Pacômio fundou o primeiro monastério aonde estes homens religiosos poderiam habitar em suporte mútuo sob uma regra de vida. Estes ideais, os quais acenderam as almas de muitos homens e mulheres que hoje conhecemos como Santos, se espalharam do Egito para a Palestina, para a Síria e todo o Oriente. Eles foram importados no Ocidente pelo grande São João Cassiano, e ali eles brilharam adiante tão fulgurantes quanto no Oriente.

NOTAS

1. A palavra monge pode também vir da palavra egípcia para ‘tecedores de tapete’. Os antigos monges do Egito se sustentavam trançando cestas e tapetes.


Retirado de "Uma Breve História da Igreja para cristãos ortodoxos"., de autoria do Rev.Hieromonge Aidan (Keller)
Tradução para o português de Falko Konig.
O texto é usado aqui por cortesia do monastério de São Hilarion em Austin, Texas.



Breve História da Igreja Ortodoxa - Parte I





Este texto foi retirado do blog O CETRO REAL.




O texto é usado aqui por cortesia do monastério de São Hilarion em Austin, Texas.


Fundação da Igreja

Há uns 2000 anos atrás Nosso Senhor Jesus Cristo interveio diretamente na história humana. Apesar de ser Deus (juntamente com o Pai e o Espírito Santo), Ele se tornou homem – ou, como o expressamos comumente, Ele se encarnou. A humanidade, já no seu princípio em Adão e Eva, afastara-se da vida Divina abraçando o pecado e tinha caído sob o poder da morte. Porém o Senhor Jesus, pela sua encarnação, morte na Cruz e subsequente Ressurreição da morte no terceiro dia, destruiu o poder que a morte tinha sobre o homem. Pelo seu ensinamento e Sua palavra salvadora inteira, Cristo reconciliou a Deus uma humanidade que tinha crescido longe de Deus[1] e se tinha tornada enlaçada pelos pecados[2]. Ele aboliu a autoridade que o demônio tinha sobre os homens[3] e Ele renovou e recriou a ambos, o homem e Seu inteiro universo[4]. Construindo uma ponte no abismo que separava o homem e Deus, pela união do homem e de Deus em Sua própria Pessoa, Cristo nosso Salvador abriu para nós o caminho para a vida eterna e alegre após a morte para todos os que a aceitassem[5].

Nem todas pessoas da Judéia, os Hebreus, povo escolhido por Deus (Dt 7:6; Is 44:1), estavam prontos para ouvir estas novas, e então nosso Senhor falou a eles em sua maioria em parábolas e símbolos. Para a completa revelação de Seus ensinamentos Ele escolheu doze homens simples aos quais Ele ensinou mais perfeitamente[6]. Estes doze são os Seus chamados Apóstolos[7]. Como parte de Sua salvação à raça humana, Cristo estabeleceu a Igreja (Mt 16:18; Mt 18:17).

Ele apontou os Apóstolos para governá-la, e Ele os imbuiu de poderes sacerdotais (Mt 16:19; Jo 20:21), soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos.” (Jo 20:21-23). Ele os autorizou particularmente de pregar o Evangelho (Boa Nova) de Sua morte salvadora e Ressureição, dizendo: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tronem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”(Mt 28:19). A tradição cristã é unânime em afirmar que durante os quarenta dias após ressugir dos mortos, até a hora em que ascendeu aos céus, o Senhor Jesus instruiu os Doze estabelecendo a Sua Igreja na terra, uma Igreja à qual Ele prometeu que nunca seria tomada pelo poder das trevas (Dan 2:44; Mt 16:18). O Senhor prometeu que o Espírito Santo estaria com a Igreja e a guiaria, preservando-a da inverdade[8].


Características da Igreja de Jesus

É importante compreender que a Igreja era e é terrena e celestial. Existindo na terra, ela foi e é afetada pelas fraquezas humanas. Por exemplo, apesar de a Cabeça da Igreja ser Cristo[9], homens indignos às vezes são escolhidos para assumir posições de liderança nela. 

Como assembléia celestial, porém, é baseado pela garantia do próprio Senhor que “os portões do Hades nunca prevalecerão contra ela.”(Mt 16:18); isto é, que a Graça e a Salvação que Deus quis conceder ao seu povo através dela não poderá nunca ser invalidada por indivíduos indignos. 

A Igreja que Jesus fundou tinha características específicas, as quais são tão aplicáveis hoje quanto no dia em que os Apóstolos andavam neste mundo. Ela era...





UNA
A pesar de ser composta por congregações locais, era um corpo unido, visivelmente compartilhando a mesma Fé e Graça[10]. Não era um conjunto de diferentes denominações tendo uma reivindicação comum de seguirem ou terem sido fundadas por Jesus Cristo, unidas apenas de alguma maneira invisível por esta alegação comum. A oração “altamente sacerdotal” de Cristo, a qual Ele rezou na noite anterior à Sua morte na Cruz (Jo 17:11, 21-23) era que Sua Igreja seria una, como Ele e seu Pai são um. A túnica sem costura de Cristo, à qual é dada uma incomum atenção no Evangelho de São João (Jo 19:23-24), representa a unidade da Igreja de Cristo. 

SANTA
A Igreja é santa porque sua Cabeça, o Senhor Jesus Cristo, é santo (Ef 1:22-23; Ef 2:19-22). Ela contou com indivíduos que eram pecadores entre seus membros, mas foi o modo escolhido por Deus para dar a esses pecadores o perdão (Mt 16:19), Graça e santidade. Seus ensinamentos eram o exato caminho à santidade, e ainda o são. “Santo” significa originalmente “separado”, e a Igreja era Santa porque não foi pelo caminho do mundo, mas através do caminho desejado por Jesus Cristo nosso Senhor.

CATÓLICA
Católico[11] vem de duas palavras gregas, kata holos, o que significa “de acordo com o todo”. A Igreja foi dada a toda a humanidade; era para todas as tribos, línguas e povos e não apenas ao povo hebreu[12].Ela abarcava todos os ensinamentos dos Apóstolos, compartilhados com todos os povos da terra. Nada do que o Senhor desejava que nos fosse conhecido foi perdido, porque a Igreja o preservou completamente de século a século. Ela era...

APOSTÓLICA
Pois foi estabelecida pelos Doze e permaneceu fiel aos seus ensinamentos, e não apenas à parte dos seus ensinamentos registrados nas Escrituras, mas todas elas[13]. A Igreja também era apostólica em sua forma de governo; ela sempre foi governada pelos sucessores dos Apóstolos. Estes sucessores são chamados Bispos[14] e são visivelmente em um único corpo formado por Igrejas locais as quais compartilham a mesma Fé e participam na Comunhão umas com as outras.


“Cristãos”

Após três anos os membros da Igreja se tornaram conhecidos como “Cristãos”, um apelido primeiramente dado a eles em Antioquia (At 11:26). Este nome sempre foi aceito pelos fiéis, pois realmente é Jesus Cristo[15] aO qual nós pregamos e adoramos, e é Ele O qual é nosso Caminho e nossa Vida. É ele Quem fundou nossa Igreja e prometeu estar em seu meio, entre seu povo, “até a consumação dos séculos!”(Mt 28:20).

Escrevendo a Bíblia

Os Doze Apóstolos, os quais foram escolhidos à dedo por Cristo, andaram ao Seu lado, escutaram o mais profundo dos Seus ensinamentos, e deixaram tudo para segui-Lo, o Senhor os designou explicitamente como os primeiros líderes de sua Igreja. Era no seu testemunho pessoal de Sua Ressurreição dos mortos que a Igreja foi estabelecida e floresceu durante a época denominada Era Apostólica. Nestes tempos Deus permitiu inúmeros e espetaculares milagres a brilharem adiante em todos os lugares que os Apóstolos pregavam (veja o Livro dos Atos dos Apóstolos e de historiadores contemporâneos), para confirmar que era a Sua verdade que eles ensinavam. Nestes tempos também, os Apóstolos e discípulos estavam escrevendo memórias de sua vívida experiência de Cristo, assim como importantes cartas uns aos outros e aos fiéis. Três ou quatro séculos depois, concílios da Igreja iriam coletar e os escritos inspirados e junta-los, classifica-los, e chamá-los de Novo Testamento. Durante o período de vida dos Apóstolos porém, o seu testemunho pessoal e autoridade eram muito mais decisivas e imediatas para os fiéis do que seus escritos. Precisamos sempre ter em mente que a Igreja existiu antes da Bíblia. Portanto, qualquer igreja que alega ser baseada na Bíblia não é a Igreja de Jesus Cristo; apenas uma igreja que alega ter produzido a Bíblia pode reivindicar ser a Igreja Original.

Continuidade

Inevitavelmente os Apóstolos tinham que morrer. Mas o Senhor não pretendia que a Igreja morresse com eles; para perpetuar a Igreja os Apóstolos ordenaram sucessores chamados Bispos (Filipenses 1:1) para congregações locais. A estes homens eles concederam a Graça apostólica que eles tinham recebido do próprio Cristo, um processo que é chamado “sucessão apostólica” e a qual é discutida proeminentemente no Novo Testamento (em Tito 1 e Timóteo 2).
Diáconos também foram ordenados pelos Apóstolos. Sua ordem foi estabelecida por causa que após o rápido crescimento tornou-se impossível para os Apóstolos atender aos Cristãos materialmente e espiritualmente (Atos 6:1-6). Os deveres dos Diáconos eram de distribuir doações e manter ordem, permitindo aos Apóstolos de se concentrarem exclusivamente no ensino, exortação e celebração dos maravilhosos Mistérios de Cristo (o mistério da “partilha do pão”, o qual nós conhecemos hoje como Eucaristia, Liturgia, ou Missa, e o mistério do Santo Batismo).
Não muito após a ordem dos diáconos surgir foi criada a ordem dos Presbíteros ou Padres foi criada (Atos 14:22; em algumas traduções consta “anciãos”, pois “Padre” significa “ancião”). Aos Padres foram concedidas quase que todas as Graças que caracterizavam o ofício dos Bispos. Eles celebravam o Batismo, a Eucaristia, a unção dos enfermos, etc., liberando os Bispos de seu pesado fardo, porém os Padres não tinham a habilidade de consagrar outros Padres ou Bispos. A primitiva hierarquia trina de Bispos, Padres e Diáconos permanece a marca distintiva de todas as igrejas Cristãs históricas. Havia também ministérios menores como a dos Leitores, Subdiáconos, Acólitos e Diaconisas.

Judeus e Gentios

Na Era Apostólica a Igreja teve que fazer uma dolorosa transição. Tinha começado, é claro, na Palestina entre o povo hebreu, pois Deus tinha escolhido este povo para que fosse uma luz entre os povos, a ser o primeiro a receber o Messias e falar ao mundo sobre Ele e a vida eterna Nele. De qualquer modo, muitos da nação escolhida de Israel não escolheram seguir Cristo, e assim a tocha da fidelidade à Cristo passou amplamente aos povos gentios, à antigos pagãos, como o Profeta Isaías tinha predito há uns 700 anos antes (Is 2:2; 60:3, 5). Imediatamente chegou a questão se Cristãos gentílicos precisavam primeiro passar pela circuncisão e observar as leis de Moisés – portanto, se eles tinham que primeiro se tornar Judeus para então se tornar Cristãos. Os Apóstolos não estavam em concordância completa. O Apóstolo Paulo insistia muito em que isto não era necessário, e um concílio foi convocado em Jerusalém atendido por todos os Doze. São Tiago, líder da igreja em Jerusalém, presidiu-o. Na luz do Espírito Santo, os Apóstolos decidiram que novos Cristãos não precisavam ser circuncidados ou observar a lei de Moisés. Depois de este dilema ser resolvido a Igreja continuou se alastrando e florescendo em meio aos povos gentios. Jerusalém em si foi destruída em 70 A.D. por tropas romanas, e logo os maiores centros Cristãos tornaram-se Antioquia, Roma e Alexandria.

Resolução de disputas

Quando os Apóstolos se encontraram em um concílio que ultrapassou os seus pontos de vista individuais, eles estabeleceram um princípio que iria guiar a Igreja pelos séculos a seguir. Nenhum Apóstolo era infalível, nem nenhum dos Bispos que eles ordenavam como sucessores. Porém, reunindo-se em um concílio sob o guiamento do Espírito Santo, os Bispos da Igreja inteira declararam, em sete ocasiões, proclamado dogmas e emitiram cânones (regulamentos) os quais carregam a marca do Espírito Santo e são de maior autoridade que a palavra de qualquer Bispo. A controvérsia Judeus/Gentios foi apenas a primeira de muitas disputas divisórias, normalmente acendidas com algum ensinamento errôneo, as quais de tempos em tempos ameaçaram a unidade que é uma das quatro marcas da Igreja. Graças aos Santos Concílios, os quais falaram com a autoridade do Espírito para toda a Igreja, estas disputas nunca sucederam em rasgar em partes a unidade da Igreja.

Formação do culto Cristão

A Igreja Primitiva passou por um profundo desenvolvimento em seu culto durante os cem primeiros anos. Originalmente, a Ceia Mística, a partilha do pão, era celebrada ao anoitecer diretamente após uma refeição coletiva. Nestes primeiros anos todo o material instrutivo e inspiracional o qual atualmente envolve o ato central da Sagrada Comunhão na Liturgia tomou lugar separadamente da Eucaristia na sinagoga. Com o passar do tempo, porém, aqueles judeus que não aceitavam Cristo como o Messias desenvolveram crescentemente atitudes linha-dura em relação aos judeus seguidores de Cristo e eventualmente se negaram a permiti-los de adorar na sinagoga. Esta mudança dramática de circunstâncias resultou na estrutura básica que a Divina Liturgia tem hoje: orações penitenciais, louvor a Deus, leitura das Escrituras e um sermão (feições litúrgicas bastante afastadas da sinagoga) são hoje seguidas pela partilha do pão e Comunhão no Corpo e Sangue de Cristo. Quando a Eucaristia parou de ser um evento noturno os Cristãos começaram a jejuar antes de participar dela.

Notas : 
  1. Rm 5:1, 2,10; 2Cor 5:18-19; Ef 2:14-17; Col 1:19-22
  2. Gn 8:21; Ef 2:1-3
  3. Sl 124:7; At 26:18; Rm 6:17-18, 22; Col 1:13; Hb 2:14-15; 1 Jo 3:8
  4. 1 Cor 5:7, 17; Heb 9:15; Ap 21:5
  5. Jo 3:14-16; Rm 5:21; 1 Cor 15:22; Tit 3:7; Hb 5:9; 1 Pd 3:22
  6. Mt 10:2; Lc 6:13; Mt 26:20; Jo 6:70; 1 Cor 15:5; Ap 21:14
  7. Mc 6:30; Lc 9:10; Lc 22:14; Lc 24:10; Lc 8:1; Rm 16:7
  8. Is 37:2-3; Mt 16:18; Mt 28:19-20; Jo 14:16-17
  9. Ef 4:15; Ef 5:23-24; Col 1:18
  10. Jo 10:16; Jo 11:51-52; Rom 12:4-5; 1 Cor 12:12-13, 20, 27; Ef 4:4-5, 15-16; Col 2:18-19; Col 3:15
  11. Deve ser lembrado que “Católico” no segundo século depois de Cristo não significa a mesma coisa que “Católico” significa hoje, no século XX.
  12. Lc 13:29; Lc 24:47; Rm 1:5; Rm 10:12
  13. 2 Ts 2:15; 2 Tm 1:13-14; 1 Jo 2:24
  14. At 20:28; 1 Tm 3:1-2; Tt 1:7
  15. Jesus (ou Joshua) significa “Salvador”(Mt 1:21). “Cristo” significa “O Ungido”.

Retirado de "Uma Breve História da Igreja para cristãos ortodoxos"., de autoria do Rev.Hieromonge Aidan (Keller)
Tradução para o português de Falko Konig.
O texto é usado aqui por cortesia do monastério de São Hilarion em Austin, Texas.