quarta-feira, janeiro 2

Exposição catequética sobre a Divina Liturgia - Parte 4





A Liturgia dos Fiéis

Os fiéis cristãos são a Igreja de Cristo. Eles concelebram com o sacerdote quando do sacramento da Eucaristia.
O povo da igreja é o guardião da verdade e da piedade, e o sacerdote em suas orações particulares pede por todos eles, "que servem com amor" a Deus, pela purificação de suas almas e dos seus corpos e para o fortalecimento,  pelo poder do Espírito Santo, da espiritualidade de cada um,  através da comunhão dos Santos Mistérios do Reino dos Céus. 
E oramos pela "Paz Celeste", para que "reine a Paz no universo", Para que sejamos livres de toda aflição, ira e necessidade".
Os fiéis discípulos do Salvador seguem o caminho indicado por Ele e entram após Ele no Santo dos Santos, no Reino de Deus. "Afastando todo pensamento mundano ", e dotados de um pensamento puro eles crucificam-se com Cristo e morrem para o mundo, mas vão viver  com o Senhor na eternidade.
Nenhum daqueles que está preso pelos desejos ou paixões da carne é digno de vir a Ti, de se aproximar de Ti e de Te servir, ó Rei da Glória: pois servir-Te é uma função grande e temível mesmo para os Poderes Celestes. Diz o Sacerdote em sua oração. 
E nós, como as Hostes Angélicas, mostrando um rosto triunfante como dos Querubins, cantamos o hino da Trindade Criadora, deixando as preocupações, fortalecendo o coração e a mente na contemplação do Mistério de Deus, que se nos revela. O Filho de Deus, Rei dos séculos, o Senhor de todo o universo, "invisivelmente" adorado nos Céus pelos coros angélicos, que veio à Terra para cumprir o mistério da salvação da humanidade. O Filho de Deus - o Cordeiro Santo", levando todos os pecados do mundo" (Jo 1, 29) por meio do Seu sacrifício a Deus Pai, e assim restaurando a ligação perdida pelos ancestrais entre Deus e o homem - oferece o Seu Puríssimo Corpo e Sangue como Alimento Divino aos cristãos, santificando-os e dando-lhes a Vida Eterna e a filiação perdida pela humanidade ao Santo Deus Pai.


Ao fazer a grande entrada, os sacerdotes conduzem os Santos Dons - o cálice com vinho e o disco com o Cordeiro e as partículas, retiradas em memória dos santos e de todos os membros vivos e falecidos da Igreja.


Antes da Procissão da Grande Entrada o  Sacerdote retira das Prósforas uma partícula em nome de cada fiel presente.

Diferente da pequena entrada com o Evangelho, a entrada com os Santos Dons é chamada Grande pela grandiosidade do acontecimento comemorado aqui, e pela importância da finalidade para a qual se realiza: os Santos Dons são transferidos ao altar para se realizar o santo sacramento da Sagrada Comunhão e do seu oferecimento em Sacrifício a Deus, e retrata o próprio Senhor Jesus Cristo que caminha para os sofrimentos e a morte voluntários por nossos pecados, e, por isto, quando há concelebração leva-se ainda a cruz, a lança e a colher, que lembram os instrumentos do sofrimento e morte do Salvador.



O ambão significa nesse momento o Gólgota, o Templo - o mundo inteiro, pelo qual se sacrificou o Salvador. 




Neste grande momento o sacerdote lembra o Patriarca (ou pelo Metropolita, se for o caso de uma jurisdição no qual o Primeiro Hierarca é um Metropolita) - " Pelo nosso soberano senhor e pai ", e também todos os cristãos ortodoxos. 


Os fiéis presentes no templo respondem em voz baixa:
Que o Senhor nosso Deus Se lembre, no Seu Reino, do teu presbiterado.



A memória oracional dos membros da Santa Igreja, que se faz na Grande Entrada, significa que os Santos Dons serão oferecidos em Sacrifício a Deus pela salvação de todos os lembrados.


O cálice e ó disco são levados ao  altar e colocados sobre o antimênsion estendido, significando a descida do corpo do Salvador da Cruz e a Sua colocação no Túmulo (Jo 19, 38-42).



Lê-se o tropárioO nobre José tendo descido da Cruz o Teu Puríssimo Corpo envolveu-O num lençol imaculado, embalsamou-O com aromas e colocou-O num sepulcro novo. 


As Portas Santas são fechadas. Fecha-se a cortina, tal como foi fechada a entrada ao Santo Sepulcro.
Com o grande véu, como o pano de linho limpo, são cobertos o cálice e o disco. Os pequenos véus significam o sudário (lenço), que cobria a cabeça do Salvador (Jo 20, 7), e os lençõis da mortalha.



A grande entrada é também a profecia da Segunda Vinda: Na Tua Benevolência, abençoa a Sião; Tu reconstruirás as muralhas de Jerusalém... - Ora o sacerdote pela Nova Jerusalém (Ap 21, 2) e por nossa purificação pela "Vítima da Verdade", que agora será realizada.
Na Litania de súplica a Igreja ora pelos Santos Dons transferidos ao altar: Completemos a nossa oração ao Senhor... pela concessão dos bens salvíficos, porque o Senhor Jesus Cristo disse que o Pai Celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem (Mateus 7, 11). 




Paz a todos,, - exclama o sacerdote. Cristo nos deixou a Sua paz e o mandamento de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (Jo 14, 27; 15, 12),
Amemo-nos uns aos outros para que, em comunhão de espírito, confessemos...- proclama o diácono, e nós cantamos, O Pai, o Filho e o Espírito Santo, Trindade Сonsubstancial e Indivisível.  


Os sacerdotes no altar beijam-se sobre os ombros com o amor de Cristo, com a saudação:
"Cristo está no meio de nós". "E está, e estará". 
Nos tempos antigos, todos na Igreja se osculavam, os homens aos homens, mulheres às mulheres.  

Este rito é chamado de "ósculo da paz".  Segundo os santos padres, isso significa a união das almas e a anulação de qualquer desavença.

"Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros”. 
(Jo 13, 35)

A Oferenda Eucarística só pode ser feita mediante o amor recíproco, um pensamento, uma só fé, e uma doutrina. 
A conclamação: Vigiai as portas! - significa que, como nos primeiros tempos do cristianismo os vigias guardavam zelosamente as portas do templo da invasão de infiéis, agora nós guardamos o coração dos maus pensamentos e em união de pensamento professamos os dogmas da nossa fé.
O Símbolo da Fé, cantado na Igreja Ortodoxa durante a Divina Liturgia por todos os fiéis - desde os tempos mais antigos faz parte do rito da liturgia. Ele foi composto com a assistência do Espírito Santo pelos Santos Padres do Primeiro (325) e do Segundo (381) Concílios Ecumênicos, quando diversos ensinamentos heréticos tentaram subverter a verdadeira fé na Trindade Consubstancial e Indivisível.  
A Santa Igreja defendeu energicamente a pureza da fé ortodoxa, delineando suas fundamentais verdades salvíficas no Símbolo da Fé, que serve como um guia constante para todos os cristãos ortodoxos em sua vida espiritual.
Com o canto do Símbolo da Fé os fiéis no templo testemunham diante de Deus e da Santa Igreja que eles são fiéis, a quem é permitido estar presente na realização do Grande Sacramento.



Durante o Canto do Símbolo o sacerdote no altar eleva e abaixa o Grande Véu (chamado de Aer) sobre os Santos Dons - como sinal do sopro do Espírito Santo (3Reis 19, 11 -13). 
O diácono conclama: De pé, com atenção, respeito e temor, para oferecermos em Paz a santa Oblação.
As palavras "com atenção, respeito e temor" são um chamado à contrição espiritual interior, à atenção e à reverência devida à iminente realização do Sacramento para oferecer no mundo espiritual a Deus o Sacrifício (os Santos Dons), lembrando que este Sacrifício é oferecido a Deus não só por nós, mas também a partir de nós. 

Estamos presentes como co-participantes no Ofício Divino.  São Nicolau Cabasilas (século XIV) em seu tratado Explicação da Divina Liturgia refere estas palavras ao Símbolo da Fé, porque elas conclamam e permanecerem firmes na confissão da fé.
À conclamação do Diácono todos respondem: A misericórdia da paz, o Sacrifício de louvor. 


Estas palavras significam que "o Sacrifício Eucarístico da parte de Deus é uma grandíssima misericórdia para conosco e o fruto da reconciliação com Deus por meio de Cristo Salvador, enquanto da nossa parte é um louvor da grandeza de Deus, que se revelou na Economia da nossa salvação (Hebreus 13, 15, Sl. 49, 14). "
O sacerdote, segundo o costume antigo, dirige-se aos fiéis com as palavras do apóstolo Paulo:
A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o Amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.
(2Coríntios. 13, 13). 

Com esta bênção o sacerdote deseja que desçam sobre os fiéis os altíssimos dons espirituais do Trono da Santíssima Trindade.

O coro responde em nome dos fiéis: E com teu espírito.
Esta oração recíproca do pastor e do rebanho antes do oferecimento do Santo Sacrifício, reforça a unidade fraterna dos membros da Igreja.


Do fundo do nosso coração devemos elevar orações ao Trono de Deus e o sacerdote exclama:
Corações ao alto, isto é, nas palavras do Apóstolo, cuidemos das coisas do alto, não do que é da terra. (Cl 3, 2).
O coração humano é o órgão espiritual com o qual nós percebemos o mundo espiritual do Alto, entramos em comunhão com Deus. "Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus", - diz o Senhor (Mt 5, 8).

Já os temos no Senhor,- nós respondemos. 


São Cirilo de Jerusalém nos ensina:
"Verdadeiramente, nesta hora mui tremenda, é preciso ter o coração no alto, junto de Deus, e não embaixo, na terra, nas coisas terrenas. Por isto... é necessário que, nesta hora se abandonem todas as preocupações da vida e os cuidados domésticos e que se tenha o coração no céu, junto ao Deus benevolente."


Continuidade da série de postagens destinadas a fazer uma exposição catequética sobre a Divina Liturgia.
Os artigos são adaptações da série de palestras catequéticas elaboradas peloPresbítero Basílio Gelevan, pároco da igreja Santa Zenaide (Patriarcado de Moscou, Rio de Janeiro), que foram ofertadas aos fieis em domingos seguidos, após a celebração da Divina Liturgia e publicadas no Blog O Cetro Real do Diácono Marcelo Paiva.

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