domingo, janeiro 13

São João, o Teólogo



«Eu, João, irmão vosso e companheiro convosco
na aflição, no reino, e na perseverança em Jesus,
estava na ilha chamada Patmos
por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.
Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor,
e ouvi por detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia:
O que vês, escreve-o num livro,
e envia-o às sete igrejas:
a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira,
a Sardes, a Filadélfia e a Laodicéia.»
Ap 1:9-11

ais de meio século havia passado desde a organização da igreja cristã. Durante esse tempo a mensagem do evangelho tinha sofrido constante oposição. Seus inimigos jamais afrouxaram os esforços, e afinal alcançaram êxito em arregimentar o poder do imperador romano contra os cristãos.
Na terrível perseguição que se seguiu, o apóstolo João muito fez para confirmar e fortalecer a fé dos crentes. Ele deu um testemunho que seus adversários não puderam controverter, e que ajudou seus irmãos a enfrentar com lealdade e coragem as provas que lhes sobrevieram.
Quando a fé dos cristãos lhes parecia vacilar sob a feroz oposição que eram forçados a enfrentar, o velho e provado servo de Jesus lhes repetia com poder e eloqüência a história do Salvador crucificado e ressurgido. Mantinha firmemente a fé, e de seus lábios brotava sempre a mesma alegre mensagem: «O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida... o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos.» 1Jo 1,1-3.
João alcançou avançada idade. Testemunhou a destruição de Jerusalém e a ruína do majestoso templo. Último sobrevivente dos discípulos que haviam privado intimamente com o Salvador, sua mensagem teve grande influência em estabelecer o fato de que Jesus é o Messias, o Redentor do mundo. Ninguém poderia duvidar de sua sinceridade, e através de seus ensinos muitos foram levados a deixar a incredulidade.
Os príncipes dos judeus encheram-se de ódio atroz contra JOÃO por sua inamovível fidelidade à causa de Cristo. Declararam que de nada valeriam seus esforços contra os cristãos enquanto o testemunho de João soasse aos ouvidos do povo. Para que os milagres e ensinos de Cristo fossem esquecidos, a voz da ousada testemunha teria de ser silenciada.
João foi por conseguinte convocado a Roma para ser julgado por sua fé. Aqui perante as autoridades, as doutrinas do apóstolo foram deturpadas. Falsas testemunhas acusaram-no de ensinar sediciosas heresias. Por essas acusações esperavam seus inimigos levar em breve o discípulo à morte.
João respondeu por si de maneira clara e convincente, e com tal simplicidade e candura que suas palavras tiveram efeito poderoso. Seus ouvintes ficaram atônitos com sua sabedoria e eloqüência. Porém, quanto mais convincente seu testemunho, mais profundo era o ódio de seus opositores. O imperador Domiciano estava cheio de ira. Não podia contrafazer as razões do fiel advogado de Cristo, nem disputar o poder que lhe acompanhava a exposição da verdade; determinou, contudo, fazer silenciar sua voz.
João foi lançado dentro de um caldeirão de óleo fervente; mas o Senhor preservou a vida de Seu fiel servo, da mesma maneira como preservara a dos três hebreus na fornalha ardente. Ao serem pronunciadas as palavras: «Assim pereçam todos os que crêem nesse enganador, Jesus Cristo de Nazaré», João declarou: «Meu Mestre Se submeteu pacientemente a tudo quanto Satanás e seus anjos puderam inventar para humilhá-Lo e torturá-Lo. Ele deu a vida para salvar o mundo. Considero uma honra o ser-me permitido sofrer por Seu amor. Sou um homem pecador e fraco. Cristo era santo, inocente, incontaminado. Não pecou nem se achou engano em Sua boca.»
Estas palavras exerceram sua influência, e João foi retirado do caldeirão pelos mesmos homens que ali o haviam lançado.
De novo a mão da perseguição caiu pesadamente sobre o apóstolo. Por decreto do imperador foi João banido para a ilha de Patmos, condenado «por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo.» Ap 1,9. Aqui, pensavam seus inimigos, sua influência não mais seria sentida, e ele morreria, afinal, pelas privações e sofrimentos.
Patmos, uma ilha árida e rochosa no mar Egeu, havia sido escolhida pelo governo romano para banimento de criminosos; mas para o servo de Deus sua solitária habitação tornou-se a porta do Céu. Aqui, afastado das cansativas cenas da vida, e dos ativos labores dos primeiros anos, ele teve a companhia de Deus, de Cristo e dos anjos celestiais, e deles recebeu instrução para a igreja por todo o tempo futuro. Os eventos que teriam lugar nas cenas finais da história deste mundo foram esboçados perante ele; e ali escreveu as visões recebidas de Deus. Quando sua voz não mais podia testificar d'Aquele a quem amara e servira, as mensagens que foram dadas nessa costa desolada deviam avançar como uma lâmpada que arde, declarando o seguro propósito do Senhor concernente a cada nação da Terra.
Entre as rochas e recifes de Patmos João manteve comunhão com seu Criador. Recapitulou sua vida passada, e ao pensamento das bênçãos que havia recebido, a paz encheu-lhe o coração. Ele vivera a vida de um cristão, e pudera dizer com fé: «Sabemos que passamos da morte para a vida.» 1Jo 3,14. Não assim o imperador que o banira. Este olharia para trás e encontraria apenas campos de batalha e carnificina, lares desolados, lágrimas de órfãos e viúvas, o fruto de seu ambicioso desejo de proeminência.
Em seu isolado lar, João estava habilitado a estudar mais intimamente do que nunca as manifestações do poder divino como reveladas no livro da natureza e nas Páginas da Inspiração. Era para ele um deleite meditar sobre a obra da criação, e adorar o divino Arquiteto. Em anos anteriores seus olhos tinham-se deleitado na contemplação dos morros cobertos de florestas, dos verdes vales e frutíferas planícies; e nas belezas da natureza sempre se deleitara em considerar a sabedoria e habilidade do Criador. Agora estava circundado por cenas que poderiam parecer a muitos melancólicas e desinteressantes; mas para João representavam outra coisa. Embora o cenário que o rodeava fosse desolado e árido, o céu azul que o cobria era tão luminoso e belo como o céu de sua amada Jerusalém. Nas rochas rudes, e ermos, nos mistérios dos abismos, nas glórias do firmamento lia ele importantes lições. Tudo trazia mensagem do poder e glória de Deus.
Em tudo ao seu redor via o apóstolo testemunhas do dilúvio que inundara a Terra porque seus habitantes se aventuraram a transgredir a lei de Deus. As rochas que irromperam da Terra e do grande abismo pelo irromper das águas, traziam-lhe vividamente ao espírito os terrores daquele terrível derramamento da ira de Deus. Na voz de muitas águas - abismo chamando abismo - o profeta ouvia a voz do Criador. O mar, açoitado pela fúria de impiedosos ventos, representava para ele a ira de um Deus ofendido. As poderosas ondas, em sua terrível comoção, mantidas em seus limites por mão invisível, falavam do controle de um poder infinito. E em contraste considerava a fraqueza e futilidade dos mortais que, embora vermes do pó, gloriam-se em sua suposta sabedoria e força, e colocam o coração contra o Governador do Universo, como se Deus fosse igual a eles. As rochas lhe lembravam Cristo, a Rocha de sua fortaleza, em cujo abrigo podia ele refugiar-se sem temor. Do exilado apóstolo sobre o rochedo de Patmos subiam para Deus os mais ardentes anseios de alma, as mais ferventes orações.
A história de João fornece uma vívida ilustração de como Deus pode usar obreiros idosos. Quando João foi exilado para a ilha de Patmos, havia muitos que o consideravam como tendo passado do tempo de serviço, um caniço velho e quebrado, pronto para cair a qualquer momento. Mas o Senhor achou próprio usá-lo ainda. Embora banido das cenas de seus primeiros labores, ele não cessou de dar testemunho da verdade. Mesmo em Patmos fez amigos e conversos. Sua mensagem era de alegria, proclamava um Salvador ressurrecto, que no Céu intercedia por Seu povo até que pudesse retornar e tomá-lo para Si mesmo. E foi depois de haver João encanecido na obra de seu Senhor que ele recebeu do Céu mais comunicações que durante todos os anos anteriores de sua vida.
A mais terna consideração deve ser dispensada a todos aqueles cujos interesses da vida estiveram ligados com a obra de Deus. Esses obreiros idosos têm permanecido fiéis em meio a tempestades e provas. Podem ter enfermidades, mas possuem ainda talentos que os qualificam para permanecer em seu lugar na causa de Deus. Embora gastos, incapazes de levar os encargos mais pesados que os mais jovens podem e devem levar, seus conselhos são do mais alto valor.
Podem eles ter cometido erros, mas de suas falhas aprenderam a evitar erros e perigos; e não são ainda assim competentes para dar sábios conselhos? Suportaram provas e aflições, e embora tenham perdido parte de seu vigor, o Senhor não os põe de lado. Ele lhes dá especial graça e sabedoria.
Os que serviram seu Mestre quando a obra era difícil, que suportaram a pobreza e permaneceram fiéis quando poucos havia ao lado da verdade, devem ser honrados e respeitados. O Senhor deseja que os obreiros mais jovens ganhem sabedoria, fortaleza e maturidade pela associação com esses homens fiéis. Que os homens mais jovens sintam que ter entre eles tais obreiros lhes representa um alto favor. Dêem-lhes um lugar de honra em seus concílios.
Quando os que despenderam sua vida no serviço de Cristo se aproximam do fim de seu ministério terrestre, são impressionados pelo Espírito Santo a referir as experiências que tiveram em relação com a obra de Deus. O relato de Seu maravilhoso trato com Seu povo, de Sua grande bondade em livrá-lo das provas, deveria ser repetido aos recém-vindos à fé. Deus deseja que os velhos e provados obreiros permaneçam em seus lugares, fazendo sua parte para livrar a homens e mulheres de serem varridos pela poderosa corrente do mal, e deseja que conservem a armadura até que lhes ordene depô-la.
Na experiência do apóstolo João sob a perseguição, há para o cristão uma lição de maravilhosa fortaleza e conforto. Deus não impede a trama dos ímpios, mas faz que suas armadilhas contribuam para o bem daqueles que em prova e conflito mantêm sua fé e lealdade. Não raro o obreiro do evangelho efetua sua obra em meio a tempestades de perseguições, oposição atroz e acusações injustas. Em tais ocasiões lembre-se ele de que a experiência por alcançar na fornalha da prova e da aflição paga todas as penas de seu preço. Assim traz Deus Seus filhos próximo de Si, para que lhes possa mostrar Sua fortaleza e a fraqueza deles. Ele os ensina a arrimarem-se n'Ele. Dessa forma prepara-os para enfrentar as emergências, ocupar posições de responsabilidades e realizar o grande propósito para o que lhes foram dadas as faculdades.
Em todas as épocas as testemunhas designadas por Deus se têm exposto às perseguições e ao desprezo por amor à verdade. José foi caluniado e perseguido por haver preservado sua virtude e integridade. Davi, o mensageiro escolhido de Deus, foi caçado como um animal feroz por seus inimigos. Daniel foi lançado na cova dos leões por ser leal a sua aliança com o Céu. Jó foi privado de suas posses terrestres e ferido no corpo de tal maneira que o desprezaram os próprios parentes e amigos; contudo manteve sua integridade. Jeremias não pôde ser impedido de falar as palavras que Deus lhe ordenara; e seu testemunho de tal maneira enfureceu o rei e os príncipes que o atiraram num poço asqueroso. Estevão foi apedrejado por haver pregado a Cristo, e Este crucificado. Paulo foi encarcerado, açoitado, apedrejado e finalmente entregue à morte por ter sido fiel mensageiro de Deus aos gentios. E João foi banido para a ilha de Patmos «por causa da Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo.»
Esses exemplos de humana firmeza dão testemunho da fidelidade das promessas de Deus - de Sua permanente presença e mantenedora graça. Testificam do poder da fé para enfrentar os poderes do mundo. É obra de fé repousar em Deus na hora mais escura, sentir, embora dolorosamente provado e sacudido pela tempestade, que nosso Pai está ao leme. Somente os olhos da fé podem ver para além das coisas temporais e apreciar com acerto o valor das riquezas eternas.
Jesus não oferece a Seus seguidores a esperança de alcançar glórias e riquezas terrestres, de viver uma vida livre de provações. Ao contrário, chama-os para segui-Lo no caminho da abnegação e ignomínia. Aquele que veio para redimir o mundo sofreu a oposição das arregimentadas forças do mal. Numa impiedosa confederação, homens e anjos maus se aliaram contra o Príncipe da paz. Cada um de Seus atos e palavras revelava divina compaixão, e Sua inconformidade com o mundo provocou a mais acérrima hostilidade.
Assim será com todos os que se dispuserem a viver piamente em Cristo Jesus. A perseguição e o descrédito esperam todos os que se imbuírem do Espírito de Cristo. O caráter da perseguição muda com o tempo, mas o princípio - o espírito que a anima - é o mesmo que tem dado a morte aos escolhidos do Senhor desde os dias de Abel.
Em todos os séculos Satanás tem perseguido o povo de Deus. Tem-no torturado e lhe dado a morte, porém tornaram-se eles conquistadores ao morrer. Deram testemunho do poder de Alguém que é mais forte que Satanás. Podem os ímpios torturar e matar o corpo, mas não podem tocar na vida que está escondida com Cristo em Deus. Podem encerrar homens e mulheres nas prisões, mas não lhes podem encerrar o espírito.
Mediante provas e perseguições, a glória - o caráter - de Deus se revela em Seus escolhidos. Os crentes em Cristo, odiados e perseguidos pelo mundo, são educados e disciplinados na escola de Cristo. Na Terra andam em veredas estreitas; são purificados na fornalha da aflição.
Seguem a Cristo através de penosos conflitos; suportam a abnegação e passam por amargos desapontamentos; mas deste modo aprendem o que significam a culpa e os ais do pecado, e olham para ele com repulsa. Tendo sido participantes das aflições de Cristo, podem contemplar a glória além da obscuridade, dizendo: «Tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.» Rom 8, 18



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