sábado, agosto 17

O Pai Espiritual

Este texto foi retirado do blog O CETRO REAL. A quem agradecemos pela fiel dedicação à difusão da Fé Ortodoxa no Brasil. Deus vos salve! Destacamos a introdução do Diác. Marcelo.

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Muitos são os artigos do Cetro Real que trazem os ensinamentos espirituais de Anciãos, Pais Espirituais, que dotados de uma iluminação espiritual concedida pelo Espírito Santo de Deus, provem aos que buscam seguir no caminho da Verdade, as mais lúcidas orientações sobre como compreender a Lei de Deus, as formas de como lidar com as batalhas do mundo, em busca da Salvação. Hoje tratamos de compreender o que vem a ser exatamente o Pai Espiritual, as características que nos ajudam a identificar esses Servos de Deus no mundo, e a importância desses na vida espiritual dos cristãos ortodoxos. O papel desenvolvido pelos Anciãos na Igreja Ortodoxa não encontra precedentes na heterodoxia, muito em razão do arraigado secularismo (intelectualismo, enciclopedismo) natural as vertentes cristas aparteadas da Santa Igreja. O texto foi justamente concebido pelas orientações de um desses santos servos de Deus, o Ancião Porphyrios, no material registrado no livro “ The Orthodox Way” de autoria do Metropolita Kallistos Ware





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O que vem a ser um Pai Espiritual?

O Pai Espiritual(Geronta em grego,Staretz em russo),não precisa necessariamente ser um homem velhoem anos, mas ele deve ser sábio em sua experiência sobre a verdade divina, sendo abençoado com a graça da "paternidade espiritual", tendo assim o carisma de guiar os outros no caminho da Verdade.

O que ele oferece aos seus filhos espirituais não é primariamente uma instrução moral ou uma regra de vida, mas uma relação pessoal. "O Pai Espiritual (staretz)",diz Dostoiévski,"é aquele que leva a alma e a vontade dos seus filhos espirituais, em sua alma e em sua vontade". Os discípulos do Ancião Zacarias costumavam dizer sobre ele:" É como se ele carregasse os nossos corações em suas mãos."

O Pai Espiritual é um homem dotado de paz interior, e através dele, milhares podem encontrar a salvação. O Espírito Santo lhe dá como fruto de suas orações e abnegação, o dom do discernimento e discriminação, permitindo-lhe ler os segredos dos corações dos homens, e é assim que ele responde, não só as questões que os outros que lhe instam, mas muitas vezes responde a aquelas perguntas, quase sempre de fundamental importância, que nem sequer o filho espiritual pensou em fazer. Combinado com o dom do discernimento, ele possui também o dom do poder espiritual da cura para restaurar as almas dos homens, e às vezes também dos seus corpos.

Essa cura espiritual ele oferece não apenas através de suas palavras de aconselhamento, mas através do seu silêncio e sua presença. Por mais importante que os conselhos possam ser, muito mais importante porem é a sua oração de intercessão. Ele reza constantemente por seus filhos, identificando-se com eles, aceitando as suas alegrias e tristezas como sendo as suas próprias, levando nos ombros o fardo de suas culpas ou ansiedades.

Ninguém pode ser um Pai Espiritual se não rezar insistentemente pelos outros. Se o Pai Espiritual é um padre, normalmente o seu ministério de direção espiritual está intimamente ligado com o sacramento da confissão. Mas um Ancião no sentido pleno, como descrito por Dostoiévski ou exemplificado pelo padre Zacarias, é mais do que um padre confessor e ele não pode ser assim nomeado por qualquer autoridade. 

O que acontece então, é que o Espírito Santo, falando diretamente ao coração do povo cristão, torna claro que esta ou aquela pessoa foi abençoada por Deus com a graça de guiar e curar os outros. O verdadeiro Pai Espiritual é, neste sentido, uma figura profética, e não um funcionário institucional. 

Apesar de ser mais comum que o Pai Espiritual seja um monge sacerdote, ele também pode ser um sacerdote casado que atenda a uma paróquia, ou então um monge leigo não ordenados para o sacerdócio, ou mesmo (em um caso menos freqüente), uma monja, ou um leigo (mesmo uma mulher) que viva no mundo. Se o Pai Espiritual não é ele próprio um padre, depois de ouvir os problemas das pessoas e lhes ofertar conselhos, ele deve com enviar essas pessoas as quais orienta, para um padre que lhes preste a confissão e absolvição sacramental.

A relação entre o filho e o pai espiritual varia de caso a caso. Alguns visitam seu Pai Espiritual apenas uma ou duas vezes na vida, em um momento de extraordinária crise , enquanto outros estão em contato regular com os seus orientadores, os vendo mensal ou diariamente. Não há regras e a vinculação cresce por si só, sob a direção imediata do Espírito Santo. E esta relação será sempre pessoal. O Pai não aplica regras abstratas tiradas de um livro, mas sim, vê com especial atenção, o homem ou a mulher que está diante dele; e iluminado pelo Espírito Santo, procura transmitir a vontade única de Deus especificamente para essa pessoa.

Devido a isso, o verdadeiro Pai Espiritual compreende e respeita o caráter distintivo de cada um dos seus filhos, não buscando eliminar a sua liberdade interior, mas a reforçando. Ele não tem por objetivo suscitar uma obediência mecânica, mas sim, levar os seus filhos a um ponto de maturidade espiritual, onde eles possam decidir por si próprios.

Ele faz com que cada um dos seus filhos descubra a sua verdadeira face, que antes era em grande parte feita oculta daquela pessoa, e sua palavra, sendo criadora e vivificadora, permite que seus filhos realizem tarefas que antes lhes pareciam impossíveis. Mas tudo isso, o Pai Espiritual só pode realizar se ele amar verdadeiramente, cada um dos seus filhos espirituais, pessoalmente. Além disso, o relacionamento é mútuo, e o Pai Espiritual nada pode fazer se aquele ao qual ele orienta não tem um sério e verdadeiro desejo de mudar o seu modo de viver, abrindo o seu coração, com amor e total confiança em seu Pai Espiritual.

Quem vai ver um Ancião com um espírito de curiosidade espiritual provavelmente voltará desta visita com as mãos vazias. Justamente em razão do relacionamento Pai & Filho Espiritual ser sempre pessoal, um orientador não poderá ajudar a todos indistintamente. Ele só pode ajudar aqueles que são especificamente enviados pelo Espírito Santo.

Desta forma, o discípulo não deve dizer: "Meu Pai Espiritual é melhor do que todos os outros." Ele deve dizer apenas: "Meu Pai Espiritual é o melhor para mim". Para orientar os outros, o Pai Espiritual atende a vontade e a voz do Espírito Santo. "Vou dar apenas o que Deus me diz para dar", disse São Serafim. "Acredito que a primeira palavra que me vem, é inspirada pelo Espírito Santo". 

Obviamente, ninguém tem o direito de agir desta forma, salvo se através do esforço ascético e da oração, atingir uma consciência excepcionalmente intensa da presença de Deus. Para quem ainda não atingiu esse nível, tal comportamento seria presunçoso e irresponsável. O Ancião Zacarias fala nos mesmos termos, como São Serafim:

“Às vezes um homem não sabe mesmo o que ele vai dizer. O próprio Senhor fala através dos seus lábios. É preciso rezar assim: "Ó Senhor, que vive em mim, Você pode falar através de mim, Você pode agir através de mim."

Quando o Senhor fala através dos lábios de um homem, então todas as palavras do homem são eficazes e tudo o que é falado por ele vai se cumprir. A relação entre pai e filho espiritual se estende para além da morte, até o Juízo Final. O ancião Zacarias tranquilizava os seus seguidores dizendo: "Depois da morte serei muito mais vivo do que sou agora, portanto não chorem quando eu morrer... No dia do juízo cada pai espiritual dirá, : Aqui estou eu e os meus filhos." São Serafim pediu estas palavras marcantes para ser inscrito na sua lápide:

“Quando eu morrer, venha ate mim no meu túmulo, e quanto mais vezes o fizer será melhor. Seja qual for a sua alma, o que tenha acontecido com você, venha a mim como o fazia quando eu estava vivo, e ajoelhado no chão, toda a sua amargura virá para minha sepultura. Conte-me tudo, pois eu vou ouvir você, e toda a amargura que você guarda irá voar para bem longe de você. E assim como você falava comigo quando eu estava vivo, faça agora. Pois eu estou vivo e vou viver para sempre.”

Nem todos os ortodoxos têm um pai espiritual. E o que podemos fazer, se procuramos um guia e não conseguimos encontrar um? É claro que é possível aprender a partir de livros; pois se temos ou não um Pai Espiritual, nós devemos ter a Bíblia como uma orientação constante. Mas a dificuldade com os livros é saber o que precisamente se aplica a mim, pessoalmente, neste ponto específico sobre a minha jornada. Em relação aos livros, assim como há a paternidade espiritual, há também a fraternidade ou irmandade espiritual, que se consiste na ajuda dada a nós não por professores em Deus, mas pelos nossos condiscípulos.

Contudo, todos aqueles que se comprometam seriamente com o caminho da verdade, devem empreender todos os esforços para encontrar o seu Pai no Espírito Santo. Isso não significa dizer que todos vão encontrar um Pai Espiritual como São Serafim ou como o Padre Zacarias, e sobre isso, devemos tomar cuidado para que em nossa expectativa de algo aparentemente mais espetacular, não acabarmos por negligenciar aquela ajuda que é ofertada verdadeiramente por Deus. Pois alguém que aos olhos dos outros pode ser um tipo comum, pode ser o seu Pai Espiritual, sendo capaz de falar a você, pessoalmente, aqueles palavras de fogo que você mais necessita ouvir. 








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