sábado, agosto 17

Breve História da Igreja - Parte III

Este texto foi retirado do blog O CETRO REAL.



“Nova Roma”; o segundo Concílio (381 d.C.)


O Imperador Constantino pôs outra enorme mudança em movimento quando moveu a capital do Império Romano de Roma para Bizâncio, uma obscura aldeia na Grécia não distante de Nicéia. Em breve se tornaria conhecida como Constantinopla o Nova Roma, e foi lá que o Segundo Santo Concílio foi realizado em 381[1]


No primeiro Concílio a questão principal era a divindade de Cristo; este Segundo Concílio tratou sobre a divindade do Espírito Santo. O ensinamento genuíno de que o Espírito Santo é Deus foi santificado pelos Padres do Concílio em afirmações que agora formaram a segunda parte do Credo que cantamos todo Domingo na Divina Liturgia.

Um outro modo de esta doutrina ser sacralizada foi feito por um ato pioneiro de São Cirilo de Jerusalém. Para a Liturgia Eucarística ele adicionou uma invocação explícita ao Espírito Santo para descer sobre os Dons e efetuar a sua transmutação no Corpo e Sangue de Cristo. Esta invocação é chama de epiclese, e várias Igrejas a adotaram em seus ritos[2].

Padronização da Liturgia

Algum tempo antes de 450 d.C. uma grande transformação ocorreu no modo como a Liturgia era celebrada em Roma. Originalmente era feita em grego, até que o Papa São Victor começou a usar o latim. 

Em algum ponto, o qual nenhum pesquisador foi hábil o suficiente para descobrir precisamente, as orações foram rearranjadas, e o conciso e simétrico Cânone Romano foi estabelecido. Após isto, as mudanças realizadas no Rito Romano foram menores, ao menos após o Pai-nosso e o Kyrie terem sido postos no lugar por São Gregório (cerca de 600 d.C.). 

O Rito Romano esteve presente na Espanha no século V e se desenvolveu independentemente no Rito Mozarábico. Na Gália, o Rito Gaulês, um rito latino com feições orientais, era usado. Em Milão, um rito semelhante ao Romano, chamado Ambrosiano, se desenvolveu independentemente. No Oriente, São Basílio codificou a Liturgia e desta São João Crisóstomo (século V) produziu uma versão concisa. Estas duas liturgias, juntamente com as horas de oração do monastério se São Sabbas perto de Jerusalém, foram a fundação para a Liturgia Bizantina. Outras importantes liturgias orientais foram as de São Marcos (Rito Copta) e de São Tiago (Liturgia Síria).

Quase que todos os ritos orientais e ocidentais citados acima tem sido usados na Igreja Ortodoxa dos tempos atuais, mesmo que apenas ocasionalmente. Mas o Rito que é a herança espiritual da vasta maioria dos Ortodoxos de hoje é o Bizantino.

“Ortodoxia”

Sempre, desde os primeiros quatro Concílios, o termo mais usado de denotar nossas crenças tem sido “Ortodoxia”. Isto vem do grego “orthos”, “correto, direito”, e “doxa”, “glória, adoração”. Os Ortodoxos, portanto, são aqueles que adoram a Deus de modo correto e verdadeiro, com uma crença correta. 

Esta palavra o tinha significado especial naqueles dias antigos de “alguém que aceita todos os Concílios” (no oriente e no ocidente, a palavra “Católico” continuou sendo usada para descrever a Igreja, porém, como veremos, “Católico” e “Ortodoxo” atualmente conotam fés diferentes).

Quatro Padres

Quatro grandes e santos homens abençoaram a Igreja quando da passagem do IV para o V século. Santo Atanásio foi (quase que) sozinho responsável pelo sucesso do Concílio de Nicéia quando sua popularidade enfraqueceu e isto o fez merecer o título de “pilar da Ortodoxia”. Quando era ainda um Diácono ele denunciou o Bispo Arius, e quando retornou de Nicéia ele foi feito Papa de Alexandria[3]. Logo, porém, ele foi exilado de sua vista, e viajou pelo ocidente e oriente escapando por um triz das garras de hereges raivosos. Pelo percurso de cinco exílios ele escreveu cartas, guiou o seu rebanho de longe, e preservou um irrepreensível senso de humor, uma de suas mais efetivas armas em seu arsenal espiritual. Santo Atanásio repousou em Cristo em 373.

São João Crisóstomo (Boca de Ouro) fez o seu início como humilde eremita na Síria, ganhou fama como um Padre e pregador em Antioquia, e então foi forçado a ser Arcebispo da Nova Roma, Constantinopla. Seu zelo pela virtude (uma área em que o casal imperial era marcadamente deficiente) atraiu a fúria imperial. João foi exilado da Nova Roma repetidamente. Quando ele morreu em 407, ele deixou uma vasta herança de cartas, sermões e comentários. Ele é especialmente amado atualmente por ter dado à Igreja a mais usada Liturgia usada para a Eucaristia.

Outro Santo influenciou os mundos ocidental e oriental, mas veio da Iugoslávia (Sidonium). São Jerônimo se mudou da Velha Roma para Belém e como Padre e monge viveu o resto de sua vida no local onde Cristo nasceu. Ele traduziu os livros da Bíblia do grego, hebraico e aramaico para o latim usando antigos manuscritos que não resistiram até hoje. Sua grande obra é chamada a Vulgata Latina, e é a versão na qual a Bíblia de Douay-Rheims[4] é baseada. Pelo ano 400, a Igreja tinha decidido quais escritos eram para ser incluídos na Bíblia, e nossa lista não mudou desde então.

O grande gigante do ocidente foi Santo Agostinho da África, um homem que veio à Cristo tarde na vida. Após muitos anos como maniqueu herético de vida transviada, Agostinho foi convertido através do Novo Testamento e a pregação de seu amigo Santo Ambrósio, bispo de Milão. Ele se tornou bispo de Hipona na África, onde ele deu conta de muitas heresias de todos os tipos. Ele é uma figura controversa porque sua pena frequentemente (.....) seu coração amante de Deus, e suas especulações produzidas pela lógica foram mais tarde usadas para desenvolver doutrinas Católico Romanas e Protestantes, as quais terão de ser fatalmente discutidas neste livro. De qualquer modo, no fim de sua vida de serviço à Deus, Agostinho escreveu um livro inteiro de retratações, deixando tudo o que tinha escrito ao julgamento da Igreja, e faleceu no odor da santidade, deixando a nós uma herança tão massiva quanto à de São João Crisóstomo.

O Terceiro Concílio – 431 d.C.

No ano após Santo Agostinho ter repousado, a Igreja convocou o Terceiro Santo Concílio em Éfeso, aonde o Apóstolo João e a Virgem Maria tinham vivido. Nestorius, o Patriarca de Constantinopla, estava traçando uma tal linha de distinção entre o lado humano de Cristo e seu lado Divino, pois ele disse em um sermão de Natal que era indigno adorar um Deus em uma manjedoura! 

O Santo Concílio o depôs e afirmou que, por causa de Cristo ser Deus e homem, a Virgem Maria é verdadeiramente Theotokos, Mãe de Deus. Nestorius se dirigiu ao oriente, “consagrando” muitos clérigos, e fundou muitas igrejas, todas separadas da Ortodoxia, e chamando-o de São Nestorius. Mas o próximo Concílio trataria de uma apostasia ainda mais terrível.

O Quarto Concílio – 451 d.C.

Houve aqueles que foram tão longe em evitar o Nestorianismo que desenvolveram outro erro, o Monofisitismo (do grego, “uma natureza”). Estes pregavam que as naturezas Humana e Divina de Cristo estavam tão unidas que tinham se fusionado em uma única natureza humano/Divina (sendo assim nem verdadeiramente humana nem verdadeiramente Divina). 

O argumento se tornou ameaçador. A Imperatriz Santa Pulcheria convocou um Concílio Geral na Calcedônia para solucionar o dilema, e, assistidos por um evidente milagre ocorrido no túmulo da antiga Mártir Eufêmia[5]  os Padres decidiram contra os Monofisitas. Tristemente, por razões religiosas e políticas, uma grande denominação dissidente se formou incluindo Coptas Egípcios, Jacobitas Sírios e seus seguidores na Índia. Este grupo rejeitou o Quarto Concílio (e os seguintes). 

A Ortodoxia proclama duas naturezas em Cristo – Divina e humana, distintas, nem misturadas nem divisíveis. Recentemente este ensinamento tem está sob ataque. Muitos líderes Ortodoxos agora afirmam que os Monofisitas atuais não acreditam no Monofisitismo clássico, e que os Ortodoxos deveriam se unir com eles. Os Monofisitas têm respondido de modo a amenizar suas afirmações históricas. De qualquer modo, Ortodoxos tradicionais ficaram alarmados com um plano de união formulado em Chambersy, Suíça, em 1990, um plano composto por representados da maioria dos Patriarcados Ortodoxos.

Falhou em afirmar que os Cristãos Monofisitas deveriam aceitar o Quarto e todos os Concílios seguintes. Condenações do Plano de Chambesyn surgiram no Monte Athos, no Patriarcado da Geórgia, e clérigos tradicionais em todo lugar. Os Ortodoxos sentem que têm mais fundamentos em comum com os Monofisitas que com quaisquer outros Cristãos separados, mas enquanto quase que metade dos Concílios Ecumênicos forem rejeitados, não pode haver uma união verdadeira.

Roma Cai

Transtornada pela decadência moral, enfraquecida por conflitos internos, e cambaleando pelo revés econômico e ideológico causado por Constantino ao relocou a Capital para Constantinopla, a Velha Roma, ficou abalada no século V por repetidas ataques bárbaros. Finalmente, em 476, Roma caiu definitivamente sob invasores pagãos. Muitos pensavam que o mundo havia acabado, pois a Cidade, o centro primordial de aprendizagem Ocidental, civilização e ordem havia ruído. 

A repercussão para a Igreja de Cristo foi grande, especialmente à longo prazo, pois enquanto a ordem pública na Itália havia se desintegrado, os Papas de Roma foram forçados por pura compaixão de assumir um novo papel semi-governamental. Eles começaram a fiscalizar doações públicas e a mediar e até mesmo mandar em assuntos públicos. Não muito tempo depois, o domínio de Roma se tornou um governo propriamente dito. Por tanto tempo quanto homens santos e capazes guiaram a igreja Romana, o arranjo funcionou, porém em anos mais distantes o provérbio “o poder corrompe” se provou verdadeiro. Lentamente, pelo curso dos próximos 300 anos, a atitude de que os Papas comandavam a Igreja se manifestou e alarmou as outras Igrejas locais.

Uma Dádiva Divina

Apenas quatro anos após Roma cair, São Benedito(Bento), o grande nasceu na Nórcia, Itália. Escolado em Roma, ele a deixou ainda rapaz para procurar a Cristo como um eremita vivendo dentro de um caverna na selva. Ele teve muitos discípulos, e escreveu uma Regra para os guiar na vida monástica. A Sagrada Regra revelou Benedito como sendo um gênio de discrição e moderação. A rigidez do ascetismo dos monges orientais ele adaptou ao caráter ocidental, insistindo mais em obediência e trabalho interno do que jejum e trabalhos exaustivos. São Benedito é conhecido como o Pai da Civilização Ocidental, pois os monastérios foram por muitos anos os únicos oásis de estabilidade e estudo em um mundo bárbaro. Eles alimentaram os pobres, salvaram os livros, ensinaram às pessoas como lê-los, e cultivaram uma nova ética, ensinando ao mundo que o trabalho manual é honorável[6].

Muitas pessoas atualmente desaprovam o Cristianismo baseando-se no fato que ninguém está fazendo o que os antigos Cristãos faziam: dividindo suas possessões em comum, renunciando à propriedade privada, rezando diariamente, “trabalhando com as mãos aquilo que é justo”, e outras coisas mencionadas no livro dos Atos na Bíblia. Em monastérios da Igreja Ortodoxa, pelo menos, este modo de vida ainda existe – para a glória de Jesus Cristo.

NOTAS

1. O Concílio foi apenas de Bispos Orientais, porém a Igreja inteira a aceitou.
2. Uma epicleses é encontrada em alguns antigos sacramentários romanos e seus derivados, no velho Rito de Sarum da Inglaterra assim como outros Ritos derivados do Romano.
3. Um Patriarca é o Bispo de um grande centro cristão. “Papa” é o antigo termo genérico para os patriarcas de Roma e Alexandria.
4. A tradução inglesa recomendada pelo nosso Sínodo.
5. Os Padres do Concílio escreveram o ensinamento Ortodoxo em um pergaminho e o dos Monofisitas em outro, então colocaram ambos na tumba de Santa Eufêmia e começaram a jejuar e rezar. Depois de três dias, eles abriram a tumba e encontraram o pergaminho Ortodoxo na mão da Santa e o Monofisita embaixo de seus pés. Eufêmia tinha falado: o caso estava encerrado.
6. Antes o trabalho manual era considerado desprezível, adequado apenas a pobres e escravos.


Retirado de "Uma Breve História da Igreja para Cristãos Ortodoxos", de autoria do Rev.Hieromonge Aidan (Keller)
Tradução para o português de Falko Konig.
O texto é usado aqui por cortesia do monastério de São Hilarion em Austin, Texas.


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