sábado, agosto 17

Breve História da Igreja Ortodoxa - Parte II


Este texto foi retirado do blog O CETRO REAL.




O que mantêm a Igreja unida?



Diferente de outras religiões, a Cristandade Ortodoxa não procura uma burocracia, hierarquia ou papéis de posição para providenciar um foco para a Igreja. O centro da Ortodoxia é a própria adoração à Deus – a Eucaristia, e a celebração do Divino Ofício. 


Por causa disto ser assim, qualquer história fundamentada da Igreja precisa incluir o desenvolvimento litúrgico, mas precisamos evitar a armadilha de tomar um enfoque casual, fatual, como muitos estudiosos fazem. 

A história de nossa Liturgia não é apenas a sucessão arbitrária de adições e mudanças, mas o trabalho de desdobramento do Espírito Santo, guiando a Igreja século por século em uma sagrada e correta adoração a Deus. Nós não adoramos como nós pensamos ser o mais correto, mas como Deus quis ser adorado.

A Era dos Mártires

O período que vem logo em seguida aos Doze Apóstolos é comumente chamada de Era dos Mártires. Assim como a nova Fé se espalhou como fogo rápido, a reação imediata de Satã foi de inspirar uma sangrenta e completa aniquilação da Cristandade. 

É incrível como apesar de todos os obstáculos os Cristãos persistiram em se reunir no Dia do Senhor. Frequentemente eles se encontravam numa casa diferente a cada semana, já que a descoberta significava morte certa.

Muitos Cristãos, já que se recusavam a negar Cristo e adorar deuses pagãos, mesmo por alguma pequena palavra ou gesto, eram mortos sumariamente ou por terríveis torturas. Mas o Senhor usou as suas alegres mortes e seus sofrimentos divinamente corajosos, juntamente com outros milagres estupendos, para tornar os corações de muitas pessoas à Ele.

Longe de destruir a Igreja, perseguições apenas refinaram e fortaleceram-na. Os sobreviventes escreviam os nomes dos mártires em calendários afim de manter um memorial anual de suas vitórias, formando a base do nosso atual calendário da Igreja com os seus Dias Santos.

Cristianismo Deturpado

A provação da Igreja pelo fogo foi espiritual assim como externo.Heresias se desenvolveram como ervas daninhas, e nenhum consenso uniforme de Fé pôde alcança-las. A palavra ‘heresia’ vem da palavra grega hairoumai, escolher. Hereges foram aqueles que escolheram suas próprias crenças ao invés da Fé da Igreja como ela era. 

Os Gnósticos tentaram misturar o cristianismo com um ideal de sabedoria secreta ideal, pensando que a salvação vinha por conhecimentos arcanos, não através da Graça de Cristo. Judaizantes não aceitavam a decisão dos Apóstolos de não observar a Lei Mosaica, e semearam desconfiança e discórdia em todo lugar em que os pastores fossem muito indulgentes com eles. Os seguidores de Marcion acreditavam que o Deus do Antigo Testamento não era o mesmo que o Pai de Jesus Cristo. Os Maniqueus acreditavam que a matéria física é má e somente o puro espírito era bom. Os Montanistas rejeitavam a hierarquia da Igreja para enfatizar fenômenos espirituais espetaculares e pregavam uma nova era do Espírito Santo. Os Sabelianos tinham em conta que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram apenas “máscaras” que Deus vestia em ocasiões diferentes quando Ele fazia diferentes coisas; eles negavam a realidade da Santíssima Trindade. Muito poucas heresias à partir desta época têm sido originais; a maioria têm sido rearranjos destas antigas tolices.

No seio da confusão e amargura postas em movimento pelos movimentos heréticos, a Igreja de Cristo era como um pequeno navio lançado ao mar; contudo Cristo era o seu Piloto, e as ameaças de perseguição e heresia foram ambas superadas. As perseguições terminaram quando o Imperador Constantino, um grande amigo da Cristandade, sobrepujou seus inimigos pagãos, tomou o poder do Império Romano e proclamou o Cristianismo legal (em 312 d.C.; até 392 d.C. se tornaria a religião estatal).

O Primeiro Concílio – Nicéia (325 d.C.)

Estes contratempos de controvérsias foram seguidos de uma vitória espiritual contra a heresia. Um Concílio de todos os Bispos Cristãos foi convocado pelo Imperador Constantino para decidir oficialmente no que a Fé Cristã consistia, pois um sacerdote de nome Arius estava ensinando que Cristo não era Deus, mas meramente um homem único, e ganhando muitos seguidores. 

O Concílio se reuniu em Nicéia e refutou a sua doutrina, escrevendo um sumário da verdadeira Fé que hoje conhecemos como primeira parta do Credo cantado na Liturgia. Ao mesmo tempo, os Padres de Nicéia concordaram em como a data da Páscoa seria definida; requereram que todos os Cristãos ficassem de pé, não ajoelhados, no culto dominical; e resolveram controvérsias clericais. Estas decisões são seguidas até hoje pelos Cristãos Ortodoxos no Ocidente e no Oriente.

Apenas mais algumas observações adicionais. Primeiro, após Nicéia os Cristãos Arianos cresceram muito mais em número do que os fiéis, mostrando que não é a mera força numérica que determina aonde está a Igreja autêntica. Segundo, apesar de ser necessário definir a Fé em termos de linguagem humana para resguardar a Verdade, foi muito doloroso para os Padres de Nicéia fazê-lo. Eles sentiam aguçadamente que a Fé de Cristo era algo para ser entesourada e guardada dentro do coração humano, não enrijecida em uma fórmula.

Nós podemos apenas nos tornar seus herdeiros espirituais se abraçarmos a Fé nas ações em nossas vidas assim como aceitando o seu Credo.

A Era Constantina

Após o Imperador Constantino ter legalizado a Fé Cristã, e esta foi definida claramente no Concílio Geral de Nicéia, mudanças momentâneas sopraram pela Igreja, e nem todos os ventos eram favoráveis.

O Cristianismo normalmente não atraíra usualmente homens ambiciosos; agora eles pretendiam se tornar Padres e Bispos, e com algum sucesso. Houve um grande influxo de conversos, não tão ferventes e sinceros como os conversos haviam sido até então. 

Igrejas públicas eram construídas e substituíram as catacumbas e lares privados como local onde os Sacramentos, ou Mistérios, eram celebrados. Esta nova liberdade permitiu o cultivo e a perfeição da música litúrgica e um florescimento da arte litúrgica, o fundamento para a salmodia e iconografia que embelezam e elevam tanto nosso culto atualmente.

A Era Constantina é o nome comumente dado ao período que se seguiu ao reinado de Constantino, quando os objetivos do Cristianismo e do reino secular em sua maioria se sobrepunham, quando a perícia e recursos da sociedade eram usados para a glória de Deus. Isto beneficiou a Igreja de certa maneira. Por exemplo, Bispos não são conhecidos por trabalharem bem em conjunto, e é possível que sem intervenção imperial nenhum Concílio Ecumênico teria sido convocado. Todos os sete Santos Concílios os quais mantiveram a nossa Fé foram convocados pela invocação de um Imperador ou Imperatriz. 

Na melhor das hipóteses, a sintonia policiada entre a Igreja e o Estado foi vantajosa para a Fé. A desvantagem foi a influência mundana que de tempos em tempos se alastrava para dentro do Santo dos Santos, e isto foi uma preocupação para muitos Cristãos sinceros. 

De fato, toda vez que as autoridades seculares tentaram interferir diretamente nas doutrinas da Igreja, santos Bispos estavam presentes para sacrificar suas vidas, se fosse necessário, para defender a Verdade. Nosso calendário de mártires está repleto de seus nomes.

Monasticismo

Uma reação à influência mundana foi liderada nos desertos do Egito, onde uma vez o Cristo infante havia fugido para escapar das mãos de um déspota mundano. 

Um jovem homem chamado Antônio se retirou ao deserto para servir a Deus em solidão e oração. Santo Antônio foi inevitavelmente rodeado por um grande número de discípulos entusiasmados, e ele os organizou como Monges cristãos. “Monge” vem do grego “monos”, “sozinho”, e primeiramente significava um eremita ou solitário[1]. Os monges renunciaram ao envolvimento secular, às comidas refinadas, à vida casada e á propriedade pessoal. 

Em resumo, seu objetivo era de cumprir não apenas os mandamentos de Cristo, mas também todos os seus conselhos dados nos Santos Evangelhos, como a pobreza voluntária, virgindade, obediência e vida ascética (ascetismo é privação voluntária e luta pelo amor à Deus).

São Pacômio fundou o primeiro monastério aonde estes homens religiosos poderiam habitar em suporte mútuo sob uma regra de vida. Estes ideais, os quais acenderam as almas de muitos homens e mulheres que hoje conhecemos como Santos, se espalharam do Egito para a Palestina, para a Síria e todo o Oriente. Eles foram importados no Ocidente pelo grande São João Cassiano, e ali eles brilharam adiante tão fulgurantes quanto no Oriente.

NOTAS

1. A palavra monge pode também vir da palavra egípcia para ‘tecedores de tapete’. Os antigos monges do Egito se sustentavam trançando cestas e tapetes.


Retirado de "Uma Breve História da Igreja para cristãos ortodoxos"., de autoria do Rev.Hieromonge Aidan (Keller)
Tradução para o português de Falko Konig.
O texto é usado aqui por cortesia do monastério de São Hilarion em Austin, Texas.



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