sábado, agosto 17

Breve História da Igreja Ortodoxa - Parte I





Este texto foi retirado do blog O CETRO REAL.




O texto é usado aqui por cortesia do monastério de São Hilarion em Austin, Texas.


Fundação da Igreja

Há uns 2000 anos atrás Nosso Senhor Jesus Cristo interveio diretamente na história humana. Apesar de ser Deus (juntamente com o Pai e o Espírito Santo), Ele se tornou homem – ou, como o expressamos comumente, Ele se encarnou. A humanidade, já no seu princípio em Adão e Eva, afastara-se da vida Divina abraçando o pecado e tinha caído sob o poder da morte. Porém o Senhor Jesus, pela sua encarnação, morte na Cruz e subsequente Ressurreição da morte no terceiro dia, destruiu o poder que a morte tinha sobre o homem. Pelo seu ensinamento e Sua palavra salvadora inteira, Cristo reconciliou a Deus uma humanidade que tinha crescido longe de Deus[1] e se tinha tornada enlaçada pelos pecados[2]. Ele aboliu a autoridade que o demônio tinha sobre os homens[3] e Ele renovou e recriou a ambos, o homem e Seu inteiro universo[4]. Construindo uma ponte no abismo que separava o homem e Deus, pela união do homem e de Deus em Sua própria Pessoa, Cristo nosso Salvador abriu para nós o caminho para a vida eterna e alegre após a morte para todos os que a aceitassem[5].

Nem todas pessoas da Judéia, os Hebreus, povo escolhido por Deus (Dt 7:6; Is 44:1), estavam prontos para ouvir estas novas, e então nosso Senhor falou a eles em sua maioria em parábolas e símbolos. Para a completa revelação de Seus ensinamentos Ele escolheu doze homens simples aos quais Ele ensinou mais perfeitamente[6]. Estes doze são os Seus chamados Apóstolos[7]. Como parte de Sua salvação à raça humana, Cristo estabeleceu a Igreja (Mt 16:18; Mt 18:17).

Ele apontou os Apóstolos para governá-la, e Ele os imbuiu de poderes sacerdotais (Mt 16:19; Jo 20:21), soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos.” (Jo 20:21-23). Ele os autorizou particularmente de pregar o Evangelho (Boa Nova) de Sua morte salvadora e Ressureição, dizendo: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tronem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”(Mt 28:19). A tradição cristã é unânime em afirmar que durante os quarenta dias após ressugir dos mortos, até a hora em que ascendeu aos céus, o Senhor Jesus instruiu os Doze estabelecendo a Sua Igreja na terra, uma Igreja à qual Ele prometeu que nunca seria tomada pelo poder das trevas (Dan 2:44; Mt 16:18). O Senhor prometeu que o Espírito Santo estaria com a Igreja e a guiaria, preservando-a da inverdade[8].


Características da Igreja de Jesus

É importante compreender que a Igreja era e é terrena e celestial. Existindo na terra, ela foi e é afetada pelas fraquezas humanas. Por exemplo, apesar de a Cabeça da Igreja ser Cristo[9], homens indignos às vezes são escolhidos para assumir posições de liderança nela. 

Como assembléia celestial, porém, é baseado pela garantia do próprio Senhor que “os portões do Hades nunca prevalecerão contra ela.”(Mt 16:18); isto é, que a Graça e a Salvação que Deus quis conceder ao seu povo através dela não poderá nunca ser invalidada por indivíduos indignos. 

A Igreja que Jesus fundou tinha características específicas, as quais são tão aplicáveis hoje quanto no dia em que os Apóstolos andavam neste mundo. Ela era...





UNA
A pesar de ser composta por congregações locais, era um corpo unido, visivelmente compartilhando a mesma Fé e Graça[10]. Não era um conjunto de diferentes denominações tendo uma reivindicação comum de seguirem ou terem sido fundadas por Jesus Cristo, unidas apenas de alguma maneira invisível por esta alegação comum. A oração “altamente sacerdotal” de Cristo, a qual Ele rezou na noite anterior à Sua morte na Cruz (Jo 17:11, 21-23) era que Sua Igreja seria una, como Ele e seu Pai são um. A túnica sem costura de Cristo, à qual é dada uma incomum atenção no Evangelho de São João (Jo 19:23-24), representa a unidade da Igreja de Cristo. 

SANTA
A Igreja é santa porque sua Cabeça, o Senhor Jesus Cristo, é santo (Ef 1:22-23; Ef 2:19-22). Ela contou com indivíduos que eram pecadores entre seus membros, mas foi o modo escolhido por Deus para dar a esses pecadores o perdão (Mt 16:19), Graça e santidade. Seus ensinamentos eram o exato caminho à santidade, e ainda o são. “Santo” significa originalmente “separado”, e a Igreja era Santa porque não foi pelo caminho do mundo, mas através do caminho desejado por Jesus Cristo nosso Senhor.

CATÓLICA
Católico[11] vem de duas palavras gregas, kata holos, o que significa “de acordo com o todo”. A Igreja foi dada a toda a humanidade; era para todas as tribos, línguas e povos e não apenas ao povo hebreu[12].Ela abarcava todos os ensinamentos dos Apóstolos, compartilhados com todos os povos da terra. Nada do que o Senhor desejava que nos fosse conhecido foi perdido, porque a Igreja o preservou completamente de século a século. Ela era...

APOSTÓLICA
Pois foi estabelecida pelos Doze e permaneceu fiel aos seus ensinamentos, e não apenas à parte dos seus ensinamentos registrados nas Escrituras, mas todas elas[13]. A Igreja também era apostólica em sua forma de governo; ela sempre foi governada pelos sucessores dos Apóstolos. Estes sucessores são chamados Bispos[14] e são visivelmente em um único corpo formado por Igrejas locais as quais compartilham a mesma Fé e participam na Comunhão umas com as outras.


“Cristãos”

Após três anos os membros da Igreja se tornaram conhecidos como “Cristãos”, um apelido primeiramente dado a eles em Antioquia (At 11:26). Este nome sempre foi aceito pelos fiéis, pois realmente é Jesus Cristo[15] aO qual nós pregamos e adoramos, e é Ele O qual é nosso Caminho e nossa Vida. É ele Quem fundou nossa Igreja e prometeu estar em seu meio, entre seu povo, “até a consumação dos séculos!”(Mt 28:20).

Escrevendo a Bíblia

Os Doze Apóstolos, os quais foram escolhidos à dedo por Cristo, andaram ao Seu lado, escutaram o mais profundo dos Seus ensinamentos, e deixaram tudo para segui-Lo, o Senhor os designou explicitamente como os primeiros líderes de sua Igreja. Era no seu testemunho pessoal de Sua Ressurreição dos mortos que a Igreja foi estabelecida e floresceu durante a época denominada Era Apostólica. Nestes tempos Deus permitiu inúmeros e espetaculares milagres a brilharem adiante em todos os lugares que os Apóstolos pregavam (veja o Livro dos Atos dos Apóstolos e de historiadores contemporâneos), para confirmar que era a Sua verdade que eles ensinavam. Nestes tempos também, os Apóstolos e discípulos estavam escrevendo memórias de sua vívida experiência de Cristo, assim como importantes cartas uns aos outros e aos fiéis. Três ou quatro séculos depois, concílios da Igreja iriam coletar e os escritos inspirados e junta-los, classifica-los, e chamá-los de Novo Testamento. Durante o período de vida dos Apóstolos porém, o seu testemunho pessoal e autoridade eram muito mais decisivas e imediatas para os fiéis do que seus escritos. Precisamos sempre ter em mente que a Igreja existiu antes da Bíblia. Portanto, qualquer igreja que alega ser baseada na Bíblia não é a Igreja de Jesus Cristo; apenas uma igreja que alega ter produzido a Bíblia pode reivindicar ser a Igreja Original.

Continuidade

Inevitavelmente os Apóstolos tinham que morrer. Mas o Senhor não pretendia que a Igreja morresse com eles; para perpetuar a Igreja os Apóstolos ordenaram sucessores chamados Bispos (Filipenses 1:1) para congregações locais. A estes homens eles concederam a Graça apostólica que eles tinham recebido do próprio Cristo, um processo que é chamado “sucessão apostólica” e a qual é discutida proeminentemente no Novo Testamento (em Tito 1 e Timóteo 2).
Diáconos também foram ordenados pelos Apóstolos. Sua ordem foi estabelecida por causa que após o rápido crescimento tornou-se impossível para os Apóstolos atender aos Cristãos materialmente e espiritualmente (Atos 6:1-6). Os deveres dos Diáconos eram de distribuir doações e manter ordem, permitindo aos Apóstolos de se concentrarem exclusivamente no ensino, exortação e celebração dos maravilhosos Mistérios de Cristo (o mistério da “partilha do pão”, o qual nós conhecemos hoje como Eucaristia, Liturgia, ou Missa, e o mistério do Santo Batismo).
Não muito após a ordem dos diáconos surgir foi criada a ordem dos Presbíteros ou Padres foi criada (Atos 14:22; em algumas traduções consta “anciãos”, pois “Padre” significa “ancião”). Aos Padres foram concedidas quase que todas as Graças que caracterizavam o ofício dos Bispos. Eles celebravam o Batismo, a Eucaristia, a unção dos enfermos, etc., liberando os Bispos de seu pesado fardo, porém os Padres não tinham a habilidade de consagrar outros Padres ou Bispos. A primitiva hierarquia trina de Bispos, Padres e Diáconos permanece a marca distintiva de todas as igrejas Cristãs históricas. Havia também ministérios menores como a dos Leitores, Subdiáconos, Acólitos e Diaconisas.

Judeus e Gentios

Na Era Apostólica a Igreja teve que fazer uma dolorosa transição. Tinha começado, é claro, na Palestina entre o povo hebreu, pois Deus tinha escolhido este povo para que fosse uma luz entre os povos, a ser o primeiro a receber o Messias e falar ao mundo sobre Ele e a vida eterna Nele. De qualquer modo, muitos da nação escolhida de Israel não escolheram seguir Cristo, e assim a tocha da fidelidade à Cristo passou amplamente aos povos gentios, à antigos pagãos, como o Profeta Isaías tinha predito há uns 700 anos antes (Is 2:2; 60:3, 5). Imediatamente chegou a questão se Cristãos gentílicos precisavam primeiro passar pela circuncisão e observar as leis de Moisés – portanto, se eles tinham que primeiro se tornar Judeus para então se tornar Cristãos. Os Apóstolos não estavam em concordância completa. O Apóstolo Paulo insistia muito em que isto não era necessário, e um concílio foi convocado em Jerusalém atendido por todos os Doze. São Tiago, líder da igreja em Jerusalém, presidiu-o. Na luz do Espírito Santo, os Apóstolos decidiram que novos Cristãos não precisavam ser circuncidados ou observar a lei de Moisés. Depois de este dilema ser resolvido a Igreja continuou se alastrando e florescendo em meio aos povos gentios. Jerusalém em si foi destruída em 70 A.D. por tropas romanas, e logo os maiores centros Cristãos tornaram-se Antioquia, Roma e Alexandria.

Resolução de disputas

Quando os Apóstolos se encontraram em um concílio que ultrapassou os seus pontos de vista individuais, eles estabeleceram um princípio que iria guiar a Igreja pelos séculos a seguir. Nenhum Apóstolo era infalível, nem nenhum dos Bispos que eles ordenavam como sucessores. Porém, reunindo-se em um concílio sob o guiamento do Espírito Santo, os Bispos da Igreja inteira declararam, em sete ocasiões, proclamado dogmas e emitiram cânones (regulamentos) os quais carregam a marca do Espírito Santo e são de maior autoridade que a palavra de qualquer Bispo. A controvérsia Judeus/Gentios foi apenas a primeira de muitas disputas divisórias, normalmente acendidas com algum ensinamento errôneo, as quais de tempos em tempos ameaçaram a unidade que é uma das quatro marcas da Igreja. Graças aos Santos Concílios, os quais falaram com a autoridade do Espírito para toda a Igreja, estas disputas nunca sucederam em rasgar em partes a unidade da Igreja.

Formação do culto Cristão

A Igreja Primitiva passou por um profundo desenvolvimento em seu culto durante os cem primeiros anos. Originalmente, a Ceia Mística, a partilha do pão, era celebrada ao anoitecer diretamente após uma refeição coletiva. Nestes primeiros anos todo o material instrutivo e inspiracional o qual atualmente envolve o ato central da Sagrada Comunhão na Liturgia tomou lugar separadamente da Eucaristia na sinagoga. Com o passar do tempo, porém, aqueles judeus que não aceitavam Cristo como o Messias desenvolveram crescentemente atitudes linha-dura em relação aos judeus seguidores de Cristo e eventualmente se negaram a permiti-los de adorar na sinagoga. Esta mudança dramática de circunstâncias resultou na estrutura básica que a Divina Liturgia tem hoje: orações penitenciais, louvor a Deus, leitura das Escrituras e um sermão (feições litúrgicas bastante afastadas da sinagoga) são hoje seguidas pela partilha do pão e Comunhão no Corpo e Sangue de Cristo. Quando a Eucaristia parou de ser um evento noturno os Cristãos começaram a jejuar antes de participar dela.

Notas : 
  1. Rm 5:1, 2,10; 2Cor 5:18-19; Ef 2:14-17; Col 1:19-22
  2. Gn 8:21; Ef 2:1-3
  3. Sl 124:7; At 26:18; Rm 6:17-18, 22; Col 1:13; Hb 2:14-15; 1 Jo 3:8
  4. 1 Cor 5:7, 17; Heb 9:15; Ap 21:5
  5. Jo 3:14-16; Rm 5:21; 1 Cor 15:22; Tit 3:7; Hb 5:9; 1 Pd 3:22
  6. Mt 10:2; Lc 6:13; Mt 26:20; Jo 6:70; 1 Cor 15:5; Ap 21:14
  7. Mc 6:30; Lc 9:10; Lc 22:14; Lc 24:10; Lc 8:1; Rm 16:7
  8. Is 37:2-3; Mt 16:18; Mt 28:19-20; Jo 14:16-17
  9. Ef 4:15; Ef 5:23-24; Col 1:18
  10. Jo 10:16; Jo 11:51-52; Rom 12:4-5; 1 Cor 12:12-13, 20, 27; Ef 4:4-5, 15-16; Col 2:18-19; Col 3:15
  11. Deve ser lembrado que “Católico” no segundo século depois de Cristo não significa a mesma coisa que “Católico” significa hoje, no século XX.
  12. Lc 13:29; Lc 24:47; Rm 1:5; Rm 10:12
  13. 2 Ts 2:15; 2 Tm 1:13-14; 1 Jo 2:24
  14. At 20:28; 1 Tm 3:1-2; Tt 1:7
  15. Jesus (ou Joshua) significa “Salvador”(Mt 1:21). “Cristo” significa “O Ungido”.

Retirado de "Uma Breve História da Igreja para cristãos ortodoxos"., de autoria do Rev.Hieromonge Aidan (Keller)
Tradução para o português de Falko Konig.
O texto é usado aqui por cortesia do monastério de São Hilarion em Austin, Texas.

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